Adega fechada

Já não vou às vinhas. Vou às favas. Vagem seca, Vago vaga, vadia, vã. Tens podado as vinhas? Brotam brotos? Cachos? Galhos? Uvas? Minha reserva acabou. Adega fechada, vindima falida, falo nada. Bons tempos aqueles de tira-gostos queijos, beijos, vinhos, rostos rimas. Ríamos muito, lembra?

Não vou dizer

Não vou te dizer
o que deves vestir
ou despir ao me encontrar.
Nem te contar
a que vim,
o que fui,
onde andei,
o que vi
ou que vinho
deves servir no jantar.
Não quero
que me sirvas
como um servo cego
serve ao seu rei nu.
Teu reino não me seduz.
Só quero que saibas
que hoje,
eu caibo no ponto final
de tua interrogação,
no ápice de tua descrença,
no momento exato
de nossa breve existência,
no espaço vazio
dessa noite pagã.
Hoje,
serei o silêncio
de tuas reticências,
a ausência
de palavras inúteis,
a omissão
das fúteis promessas
e o motivo da tua falta de pressa
em acordar,
amanhã.