Poesia no Bosque


Minha poesia foi morar no meio de um bosque, em frente a um lago, num paraíso.


Ah! Esse meu pensamento... 
entra por caminhos que nem sei. 
Viaja sozinho, me abandona, 
deixando meus olhos vazios.
Quando volta, me traz pequenas lembranças:

- Estive na infância e lembrei-me de ti...

Eu e mais 12 escritores curitibanos, recebemos hoje esse belo presente. Trechos de nossas obras foram gravadas em painéis espalhados ao longo da Trilha do Conhecimento, um caminho que adentra o Bosque Irmã Clementina, inaugurado hoje, dia 30 de março, em comemoração ao trecentésimo décimo quinto aniversário de Curitiba.

Adélia Maria Woellner, ao microfone, agradeceu a homenagem em nome de todos os poetas.



Viva a poesia!

Gota a gota


Nasci.


Um profundo poço vazio.
Com cinco filtros perfeitos
e um sexto, que às vezes faz sentido.
 
Através deles,
como se fosse um dreno ao viés,
a vida foi me preenchendo: Gota a gota.

Primeiro, entraram as pedras mais pesadas,
depositadas bem no fundo da infância
e serviram para controlar a umidade da alma
e fixar meus pés na terra.
(Nasci tão leve e líquida, não fosse esse peso,
eu seria um pássaro ou um peixe).

Com o tempo, a vida foi instilando outras peças,
encaixando-as umas sobre as outras,
deixando raros intervalos entre elas.

Por esses vãos,
circulavam rios de sentimentos.

E assim, ela foi fazendo seu trabalho.
Construindo-me.

Habitou-me de amigos, amores, filhos.
Ergueu paredes, dividiu-me,
plantou jardins, porões, sótãos, teias.


Quando me dei conta, estava cheia.
Comecei a escavar-me.

Não importa se o que transborda
desta comporta é bom ou ruim.
Estou purgando:
Gota a gota.

Abrindo espaços dentro de mim.

Poetrix



"Eu quero o silêncio das línguas cansadas..."

Calem-se prolixos!
Quero dormir na paz de Basho
E acordar com o susto de um Poetrix

e brilha a Lua Caolha, por Altair de Oliveira

... E BRILHA A LUA CAOLHA
por Altair de Oliveira

Eu, tu, ele e ela,  nós não podemos perder,  neste dia 14/03/2008 (quinta-feira) a partir das 19hs na Biblioteca Estadual do Paraná,  o lançamento deste delicioso “Lua Caolha” o livro de poetrix da grande poeta curitibana Marilda Confortin.

Quando conheci Marilda, no início do século, recordo-me de como ela fascinou-me de imediato com a sua capacidade de imantar poesia na fala. Arguta, exercia a semiótica com uma habilidade espantosa, tinha sido amante de livros, tinha conhecido Paulo Leminski pessoalmente, tinha por vários anos cometido poemas meio que escondida. Menos um, um tal de “O Largo Esquerdo da Ordem”, que ela declamou ali mesmo. Este, pude verificar depois, trata-se de uma das mais bela declarações de amor que já ouvi dedicada à nossa amada e odiada Curitiba. Como eu, a poeta também viera da roça e trabalhava com tecnologia de ponta e insistia mais de quarenta anos no mundo, redundando, procurando deixas onde deixar sua fala. Trocamos tracadilhos, bonito de ver!
Depois, quando a poeta enviou-me um arquivo com poemas para ler (“Contém quase toda poesia que escrevi até agora, ela disse.), apesar de eu ter gostado menos de um ou outro poema,  pude constatar tratar-se de uma bela poeta. “Curitiba bem que poderia te adotar como a poeta da hora!”, eu lhe disse. “Você escreve melhor que a Helena Kolody!”, acrescentei. Do pódio de sua humildade, a poeta rodou a baiana e disparou: “Você não deve entender mesmo de poesia, seu poeta! Os poemas meus que criticaste são os que as pessoas mais elogiam!  E coitadinhos dos meus versinhos diante dos poemas da mestra!”. Mas mesmo assim, mais calma depois, ela perguntou-me se eu achava seus poemas publicáveis. Rebati que sim e que sim e que sim! Desde então, para alegria de todos nós,  Marilda tem publicado seus livros de poemas e de prosa sempre que possível, e o mundo tem ficado mais bonito por causa deles. Típico de quem sempre precisou batalhar no mundo par sobreviver, a autora escreve pouco e em horários improváveis (em suas luas, vai ver…) mas escreve também contos, crônicas, canções e textos para teatro.
Na época que a conheci, Marilda Confortin já estava em contato com grupos de poetas através da internet onde discutiam e praticavam uma espécie de terceto, (filho bastardo do haicai, como costuma dizer a poeta) e hoje internacionalmente conhecido, que denominavam “poetrix” (Veja o manifesto de número 2 do “Movimento Poetrix” no livro “Lua Caolha” e também o site http://www.movimentopoetrix.com/). 
Quando a poeta me explicou as regras de composição do “Poetrix” eu não me interessei muito, simplesmente para não trair a única regra poética que tento seguir, a de que a poesia não obedece regras. Mas pude degustar alguns “poetrix” que ela tinha ali. Portanto Marilda foi uma das fundadoras deste movimento poético,  participou do setor de desenvolvimento do mesmo, contribuiu para a sua normatização e esteve em alguns países da América Latina divulgando-o, juntamente com a sua poesia e com a poesia de outros autores brasileiros. Já era tempo do livro de poetrix dela reluzir no céu da pátria literária neste instante como uma “Lua Caolha”! E fez bonito.

O LIVRO
Independentemente de realmente conter poemas de 3 versos e com  até 30 sílabas reconhecido como “Poetrix”, o livro “Lua Caolha” contém uma série de pequenas pérolas (POETRIXANDO: Brinco/ de colar/ perolas.) que, advertidamente, irão deixar o leitor de poesia que o ousar, deliciado. A poeta, que também é uma das responsáveis pelo movimento de ressurreição de bibliotecas nas escolas municipais de nossa cidade,  mostra aí que é uma perita em significar espaços mínimos. Este “Lua Caolha” é brilhante,  não subestima o leitor embaçando com um palavreado difícil uma pretensa poesia, ele toca, nele tem como ver poesia! E comover, em arte, é a maior e melhor parte, amigos e inimigos meus!

POEMAS do livro:

A OUTRA

Hoje uva
Amanhã passa
eu vinha.


(GR)ÁVIDA

Pensa que tem
O rei na barriga
        …e tem!


ABSTRATO

Nunca vens nu
Vens sempre envolto em nu
vens.

Altair Oliveira, é poeta com vários livros publicados. 



Poetrix


Dizem que hoje é dia da mulher. Recebi vários poemas e agradeço. Mas o estranho é que a maioria dos textos que recebi, tem como tema a metamorfose. E por coincidência, alguns dias atrás postei um poetrix na internet que falava sobre borboletas. Virou uma avalanche, uma bela ciranda de poetrix. Ficou muito bonita essa coletânea. Vejam:

BORBOLETÁRIO
(Marilda Confortin)


Bateram asas, as palavras.
Crisálida vazia.
Hora de chocar larvas.

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CRISÁLIDA
(Andra Valladares)

Doente de amor,
morro lagarta,
renasço borboleta...

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LATENTE
(Regina Lyra)

busco mistério
na extinta casca.
Renovo-me em jardins e praças.

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metamorfose
lílian maial

toquei-te flor
e tuas pétalas
bateram asas

***************************

atração irresistível


pétalas adejam
tremor sutil
lagartas vicejam

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JARDIM
lílian maial

a borboleta chora
brotam margaridas
onde a lágrima aflora

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metamorfose de palavras
(Hércio Afonso)

nem cálice nem galheta
meus drinques
na sua borboleta

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Cataclisma
Pedro Cardoso (DF)

o perfume
das pétalas da borboleta
ficou impregnado nas dobras do lençol

**********************************

brincando de borboletar
Hércio Afonso

eu bato asas
ela, crisálida,
sorria primavera

**********************************

Grisalho
(déa)

antes da metamorfose
com a tua lagarta
quero borboletear

**********************************

jardinagem
Jucineia Gonçalves

cultivar orquídeas
seus beijos,
de borboleta

***********************************

Borboleteando

a borboleta abriu as asas
como um raio
mergulhei profundamente

Pedro Cardoso (DF)

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enfim sós

na crisálida vazia
abrigo morno
pra minha poesia

zeh

******************************

CECÍLIA MEIRELES
(Andra Valladares)

Borboleta eterna,
em suas asas,
vôo poético.

******************************

contente
zeh

tua borboleta
minha lagarta
capeta

********************************

E o tempo levou...
Hércio Afonso

foram larvas, latentes
crisalidaram-se até que:
- crepúsculo de borboletas

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CRISÁLIDE
(Kathleen Lessa)

Longa metamorfose,
Atraso o parto mas saio.
Em nácar borboleteio.

***********************************

ERRO DO CRIADOR!?
(Oswaldo Martins)

Borboleta da largata...
Quantas cores! Que beleza!
Homens? - Servem para a guerra!...

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Timidez
Jucineia Gonçalves

fora do casulo
batem asas,
meu sorriso e as palavras

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Borboleta
(Eliana Mora)

minha saudade é assim:
vai contigo pelo mundo
leva na asa_ um jardim.

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Taturana
déa

queima, é verdade;
mas, com prazer,
ungüenta.

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A Taturana (ou Mandruvá) veio me visitar.
(Lincoln T.)

Ela me informou
que nossa flor
desabrochou

ETIQUETA Y MODA


Echemos a la basura los corsés que ocultan el vientre,
brasieres de varilla y doble relleno
para levantar las uvas ya caídas,
las pantys reforzadas que disimulan la piel de naranja,
las incómodas y desechables pijamas sexis.

Destruyamos todo aquello que oculte, deforme o engañe.
no tratemos más de ser muñequitas de vitrina fina;
al diablo con las estilizadas piernas de Julia Roberts
con el busto de montañas de cera de Pamela,
o las pestañas postizas de actrices de telenovela,
las cremas ant-iarrugas,
anti-envejecimiento
anti-vida.

Al carajo con todo tipo de joyas que nos aten
sobre todo anillos de compromiso,
relicarios con fotos añejas,
medallones con iniciales de nombres propios.

Muera todo aquello que signifique propiedad de otro,
la inseguridad de estar solas,
el miedo a ser nosotras mismas.

Lina Zerón
México