Mandado de busca e apreensão contra a poesia


Mandado de busca
e apreensão contra a Poesia


Senhores, minha poesia sumiu.
Botem os cães nos seus calcanhares.
Farejem tudo: becos, sótãos, rios.
Vasculhem céus, terras e mares.

Procurem nos dedos dos músicos,
no negro quadro de cada escola,
no fascínio quântico dos físicos,
na placa do cego que esmola.

Busquem nos diários e discos rígidos;
nos papiros, nas lápides dos túmulos;
nas paredes dos banheiros públicos;
nas gavetas e nos grafites dos muros.

Investiguem as pedras das cavernas;
os evangelhos apócrifos e as escrituras;
os templos, os conventos e as tabernas;
as democracias e as ditaduras.

Vejam nas celas e nos parreirais;
nos campos de girassóis maduros;
nos poetrix, epigramas e haicais;
no passado, no presente e no futuro.

Pesquisem nos álbuns de fotografias,
nos bares, museus, sebos e alcorões.
Se não encontrarem, revirem as livrarias,
costumam prendê-la nos porões.



E que isso não se repita!



Queres comprar meus olhos?
Não, não estão à venda.
Se te ensinassem a ver
te emprestaria.

Uma fresta bastaria
para eu encontrar o sol.

Me conheço de escuros,
de muros,
quinas,
esquinas e encruzilhadas.

Vais me amordaçar para que eu emudeça?
Esqueça!

Eu falo pelos cotovelos,
pelos pêlos,
pela saliva,
pelos olhos,
pela poesia.

Vais vendar meus olhos para que eu te siga?
Pois venda-os!

Venda tua alma ao diabo se quiseres!

Eu me nego!
Nem cega,
nem muda,
nem morta,
me entrego!

Grafitrix Usufruto

Poesia Sobre nós e elos

Sobre nós e elos

Acontece,
que somos elos de uma corrente
feita por um desses deuses dementes
que se divertem com a desgraça da gente.

Acontece,
que estamos sempre a procura
de uma corrente segura
pra nos encaixar.

Mas, acontece
que essa maldita corrente
sempre arrebenta no mesmo lugar.

Acontece,
que existem elos perdidos
que vieram ao mudo
só para serem partidos.
Elos órfãos,
que vivem sós,
que se amam,
mas não se atam,
como nós.

As vezes me pego sonhando
com um universo paralelo,
cheínho de elos,
todos sem par.
Quem sabe é por lá
que nossos chinelos
vão se encontrar

Lua e dragão




Sabe aquela lua âmbar que apareceu ontem à noite?
Deu uma vontade louca de seguir a estrada que ela abriu no mar só pra ver onde vai dar.
Os homens são apaixonados pela lua.
Eu não.
Eu fui apaixonada por São Jorge.
Quando menina, eu queria casar com ele.
Mas daí, o tempo foi passando, fui esquecendo de rezar, fui gostando do pecado e acabei esquecendo do santo.
Agora quero casar com o Dragão. Descobri que dragões são figuras bem interessantes. Muito mais interessantes que os santos homens.
Ontem a noite, quando o Dragão apareceu dentro da lua âmbar, prometi que iria salvá-lo da espada de São Jorge.
Mas... e se o Dragão também estiver apaixonado pela lua como todos os homens que amei?
Mato aquela cadela!

Poetrix


CuritiBar

Gosto dos bares às terças e quintas.
Nesses dias,
todos os pares são ímpares.

(Marilda Confortin)