Poesia Na morada


Na morada


Na minha casa não tem compartimento secreto
nem lugar proibido.
Minha casa é um livro aberto,
com meus amigos divido.

Na minha casa tudo combina com o clima e o astral.
O chinelo havaiana nunca reclama de morar debaixo da cama
com um velho sapato social.

As fotos dos filhos estão por toda parte
Exibo sim, são minhas obras de arte.

Uma erva daninha nasceu na floreira
cresceu trepadeira, não posso arrancar.
Um pé de gerânio abriu a cortina
e na surdina deixou o sol entrar.

Os livros povoam a sala, banheiro, armários,
gavetas e estantes.
São meus companheiros, eternos amantes.
Nunca vão me abandonar.

Lá em casa tem creme pra cabelo seco,
molhado, pixaco, loiro, ruivo e preto.
Tem óleo, toalha e escova de dente.
Vá que alguém de repente precise pernoitar.

Na parede tem um desenho de lápis de cor
sobre papel almaço.
Tem muito mais valor
do que a obra de Picasso.

Na cristaleira não tem cristal
Mas tem cachaça, tequila, mescal
Um vinho barato, licor de pequi
E uma última dose de bacardi.

Tenho tudo que preciso no meu Cinema Paradiso:
Poderoso Chefão, Telma e Louize,
Tomates verdes e fritos, Café Badgá
e assim, La nave vá.