Poesia LA NEGRA

para Mercedes Sosa


Hoje acordei com saudades de ti
grande borboleta.

Lembrei de tuas asas pesadas
voando pelos caminhos escuros
das revoluções, opressões, ditaduras.

Tua voz na voz dos amordaçados,
teu colo acolhendo párias,
teu tambor fazendo árias no meu peito.

Voltei aos dezessete
e recuperei a lembrança
de um amor adolescente.
Que belo presente, Negra.

Agradeci à vida por ter te conhecido,
por ter vivido no mesmo período,
por me alertares sobre os perigos
das minas, das sinas, das chacinas.

Ninastes meus negritos, palomita...

Me ensinastes a amar Chico,
Milton, Violeta, Atahualpa...
Sinto tua falta.

Quando fraquejo, te ouço.

Desejo tua coragem,
tua luz, tua inteligência.
Te visito com frequência
em sonhos, sons, imagens.

Alojo-me em teus braços, miragem.

Aqueço-me em teus fartos lenços,

choro e oro
“ Solo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacía y sola sin haber hecho lo suficiente”.



"O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer"
                                Vai, Saramago... vai juntar-se aos deuses

O vampiro de Curitiba


Dizem que um vampiro só entra na casa da gente se for convidado.
Mentira! 

O Dalton Trevisan nunca aceitou convites para almoçar ou jantar,
mas, conhece todos os cômodos da nossa casa.
Disfarça-se de traça e fica lá na cabeceira da cama, no meio dos outros livros.
Quando dormimos, escapa sorrateiro.
Cheira nossos lençóis, vê com quem dormimos, fotografa nossos pesadelos, abre gavetas, invade o quarto da empregada, revira o lixo recolhendo provas de nossos crimes. Espia o banheiro, compara e conta os fios de cabelo perdidos na pia, cheira a escova de dente, abre a geladeira, lê nossa correspondência e senta-se confortavelmente na poltrona da sala para ler os classificados no jornal do dia anterior.
Tempos depois, lemos um conto que nos parece muito familiar...
É... o Dalton, entra na vida de todo mundo, mas não deixa ninguém entrar na vida dele. Vampiro!

Dizem que hoje (14/06) ele faz aniversário. 85 anos. Será? Se não fosse por uns parentes dele que conheço, diria que o vampiro nem existe. 

Por via das dúvidas, vou deixar um pedaço de bolo na estante.
  Feliz aniversário, Dalton!