GRITO EMITO
- Tonicato Miranda



Um dia,
pensei e resolvi ser as mãos do Edgar Rice Bourroghs,
criar Tarzãs, 
recriar selvas e o tônus muscular do herói.
Não deu. 
Não tinha o dom. 
Não bastava apenas a paixão e a vontade!
Desisti ao primeio convite para brincar de pique.
Adorável leviandade.


Outro dia,
imaginei viver a vida e obra de Gauguin,
largar tudo que ainda não sabia que seria
ou que viria ter.
Não podia. 
Não havia mais ilhas vazias, 
outra Mahana como aquela.
Restou o consolo de conceber o nome numa escultura viva.
Uma criança viva e bela.


Mais tarde,
deu vontade de construir igual Mies Van der Rohe,
edifícios espetando nuvens iguais cristais de rocha entre formigas.
Não iria. 
Não poderia abandonar a luta por idéias horizontais.
Ficou o legado do dia a dia no trabalho de repartições funcionais.


Por último,
o desejo de te adornar em palavras, 
como Hemingway,
te esquecendo entre touradas, 
pescarias e cabarés da vida.
Não foi bem assim. 
Não pude espetá-la em chifres, anzóis e palitos.
Acabei sendo o simples mortal, ingresso de geral.
Do gol, apenas o grito!

Tonicato Miranda - Varandaes/1984.