Poesia LA NEGRA

para Mercedes Sosa


Hoje acordei com saudades de ti
grande borboleta.

Lembrei de tuas asas pesadas
voando pelos caminhos escuros
das revoluções, opressões, ditaduras.

Tua voz na voz dos amordaçados,
teu colo acolhendo párias,
teu tambor fazendo árias no meu peito.

Voltei aos dezessete
e recuperei a lembrança
de um amor adolescente.
Que belo presente, Negra.

Agradeci à vida por ter te conhecido,
por ter vivido no mesmo período,
por me alertares sobre os perigos
das minas, das sinas, das chacinas.

Ninastes meus negritos, palomita...

Me ensinastes a amar Chico,
Milton, Violeta, Atahualpa...
Sinto tua falta.

Quando fraquejo, te ouço.

Desejo tua coragem,
tua luz, tua inteligência.
Te visito com frequência
em sonhos, sons, imagens.

Alojo-me em teus braços, miragem.

Aqueço-me em teus fartos lenços,

choro e oro
“ Solo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacía y sola sin haber hecho lo suficiente”.