Boia Fria


Poema de Hercio Afonso de Almeida

(Foto: Daniella Rosário)
São dobras por onde ando,
em passos, relento.

Vejo gente, vejo sobras,
cumprem penas, passo lento.

É um sorriso falho,
morto, sem dentes.
É um olhar pedinte,
uma vontade em súplica.

É a mão calejada,
enxada perdida,
uma cana queimada,
um corte, tanta gente.

E rola o filme
e passa a vida.
Arde o fogo
na queima da cana.

É o sangue que rola,
a mão que despede,
a boia que esfria,
o filho que desperta.

E vejo tudo, contemplo.

E passa gente
e passa cão.

Ninguém vê!
É tudo sempre igual.

(do livro: Minha primeira vez - Brincando no horizonte da palavra)