Poesia Infância, de Helena Kolody

Fiz uma participação especial no show dos Irmãos Rolim e convidados, no SESC Água Verde. 
Em homenagem à Helena Kolody, declamei seu poema: Infância



INFÂNCIA  (Helena Kolody)



Aquelas tardes de Três Barras, 
plenas de sol e de cigarras!

Quando eu ficava horas perdidas
Olhando a faina das formigas
Que iam e vinham pelos carreiros, 
no áspero tronco dos pessegueiros.


A chuva-de-ouro era um tesouro,
quando floria.
De áureas abelhas, toda zumbia.
Alfombra flava, o chão cobria...


O cão travesso, de nome eslavo,
Era um amigo, quase um escravo.
Merenda agreste: Leite crioulo,
Pão feito em casa, com mel dourado,
Cheirando a favo.


Ao lusco-fusco, quanta alegria!
A meninada toda acorria
Para cantar, no imenso terreiro:
 “Bom barqueiro! Bom barqueiro...”
Soava a canção pelo povoado inteiro
E a própria lua cirandava e ria.


Se a tarde de domingo era tranquila,
Saía-se a flanar, em pleno sol,
No campo, recendente, a camomila.
Alegria de correr até cair.
Rolar na relva como potro novo
E quase sufocar, de tanto rir!


No riacho claro, às segundas-feiras,
Batiam roupas as lavadeiras.
Também a gente lavava trapos
Nas pedras lisas, nas corredeiras;
Catava limo, topava sapos
(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)


Do tempo, só se sabia
Que no ano sempre existia
O bom tempo das laranjas
E o doce tempo dos figos...


Longínqua infância...
Três Barras...
Plena de sol e cigarras.



com o grupo de convidados, incluindo a participação mais que especial do queridíssimo maestro Waltel Branco.