MEU NOVO LIVRO DE POESIAS
Este livro é o resultado de um mandado de busca emitido contra os poemas que cometi nos últimos anos. Apreendidos e julgados, foram condenados a sairem do anonimato. 
à venda pelo site da editora:
http://www.protexto.com.br/livro.php?livro=317

e/ou no


Acervo Almon - Rua Saldanha Marinho, 459
Centro - Curitiba - PR
http://www.acervoalmon.com.br

ou solicite-me por email
marildaconfortin@yahoo.com.br

Preço: R$ 29,00



Palestar é preciso


E por falar em poesia...
Hoje estive num colégio estadual falando sobre poesia e prosa para um grupo de adolescentes do ensino médio. Estavam na semana cultural e podiam optar por vários tipos de assunto, como teatro, musica, esportes, pintura etc.
Fiquei surpresa quando vi mais de 20 alunos entrando livremente na sala, tanto pela manhã quanto à tarde, para ouvir poesia. O mundo ainda não está perdido, pensei.
Nos primeiros minutos, muito agitados, testando meus limites, fazendo questão de mostrar aquele ar de desinteressados natural dos adolescentes estampado no rosto sem espinhas (os tempos mudaram...).

Fui jogando iscas. Interpretando poesias e prosas curtas, observando as expressões até perceber que tipo de tema mais interessava àquele grupo. Estranho... Eles se aquietavam quando eu lia poemas de rebeldia, de dor, de desamor. E também quando a prosa (li algumas crônicas), utilizava palavras consideradas pedagogicamente incorretas, isto é, palavrões, gírias. Lancei mão desse tipo de linguagem para atraí-los. Depois foi fácil. Já estavam fisgados e ouviam tudo o que eu queria dizer. Até poemas de amor e ecologia.

Na próxima semana, falarei para 1200 professores. Agentes de leitura que trabalham nos  Faróis e Bibliotecas Escolares de Curitiba, uma rede de bibliotecas que ajudei a implantar. Estou apreensiva. Que tipo de assunto atrairá a atenção desses professores? O tema que me propuseram foi “Poesia Encantamento e Arte – Tecendo uma rede de leitores”. 

É engraçado... costumo recitar em bares, cafés, inaugurações, para um público adulto, heterogêneo, que nem imagina que vai tropeçar numa poesia. E faço naturalmente, sem me preocupar.  Mas, com para um  público de crianças, adolescentes ou professores fico deveras apreensiva... A figura do professor ainda me intimida.  Tenho a impressão que estão sempre tentando extrair minha raiz quadrada, fazendo a análise sintaxe do meu texto, procurando erros ortográficos no meu sujeito oculto...

Mas, vamos lá. Estarei em ótima companhia. Muitos outros escritores e artistas estarão tentando “encantar” esses professores durante os três dias do III Encontro da Rede de Bibliotecas Escolares de Curitiba, para que continuem motivados e interessados em tecer uma grande rede de leitores. O que será mais difícil para mim, será dizer "bom dia" e não "boa noite" como estou habituada

ESCRITORES CONVIDADOS

Adélia Woelner
Alexandre França
Glória kirinus
Liana Leão
Marilda Confortin
Marina Colasanti
Roseana Murray

TRÊS POETRIX

SÓ PRÁ NÃO PERDER A PRÁTICA


Mês(mice)

Mais um mês finda.
Dele, não bebi nenhuma taça
que valesse um só estalo de língua.

Oni(m)potência

Creio em Deus, mas
temo que Ele
seja ateu.

Olhar suicida

Fixo no vazio
entre morte e vida

um fio

La Mer - de Tonicato Pereira

La Mer 
para Jairo Pereira e Achille Claude Debussy

choro neste dia claro estas incontidas marinhas lágrimas
na ponta da pedra debruço-me em minhas vagas de mágoas
depois vou até os píncaros deste incandescente azul celeste
junto-me ao vôo do gavião e ao seu prestigioso bico agreste

Debussy e seus timbres marolam águas, marés indo e vindo
é La Mer no alto de mim, o céu daqui é este precipício lindo
vontade de me jogar céu abaixo, mar adentro, no olhar da raposa
para brilhar na água com o pó de ouro do poema de Cruz e Souza

mas não, Oh! Grilhões, por que me apertam como a um parafuso
meus pés presos ao chão estão, minha cara presa ao horário fuso
sou apenas a inveja dos pássaros no céu, das baleias no mar
dos acordes do músico a dedilhar notas em mim, soltas a farfalhar

preciso doar o ruído do vento ou a planície a quem passar manso
aquele que pingar sobre mim o amor ou a morte como descanso
preciso partir meu corpo em milhentos pedaços doando-o à minhoca
dá-me o penúltimo sorriso da flauta, para ir feliz a minha última toca

Curitiba, 25/08/2010
Tonicato Miranda

Poetrix na Bienal de São Paulo

Poetrixtas unidos jamais serão vencidos!

Antonio Carlos, Marília Baetas, Carmelita, José Walber, Vicente Cariri, Goulart Gomes, Regina Lyra, Rosa Pena, Marilda Confortin


Fiquei olhando aquela imensidão gente e de livros e por um momento duvidei do que dizem por aí: “O brasileiro não lê”. Se não lê, como é que publicam tantos livros? Porque existem tantas feiras? Se desse prejuízo, porque esse mercado estaria tão aquecido? As editoras não fazem caridade...

Os espíritos e os vampiros invadiram a Bienal. Com certeza, os livros mais vendidos foram o do Chico Xavier e os da série "Crepúsculo", de Stephenie Meyer. Outro tema muito explorado, foi a culinária.

Um estande que também atraiu  muita gente, foi o do livro digital. As crianças ficaram muito curiosas com os aparelhinhos de leitura digital. É o futuro.  

 Lilian Maial e eu


Goulart Gomes, pai do Poetrix, eu e Rosa Pena que lançou seu livro de crônicas Tarja Branca, uma leitura muito agradável.
Até que enfim conheci pessoalmente essa turma. Nossa amizade já dura uma década. Quem disse que não se faz amizades sinceras e duradouras nas Internet?

Nossas antologias foram lançadas com sucesso. Deixo aqui umas iscas do Poetrix. Se gostarem, eu tenho exemplares para a venda.

H2OMEM

Calor, frio, sede, fome.
Excesso e escassez.
Difícil o guri virar homem.
(Rosa Pena)

BABEL

no alto da torre
sob o céu, ela e eu:
mistura de línguas
(Goulart Gomes)

LAVADEIRA

esfrego o peito na pedra
coração pra quarar
tua marca não sai
(Lílian Maial)

VIDAS CRUZADAS

... e só tu caminhas
pelas curvas e linhas
da palma de minha mão
(ACM - Antonio Carlos Menezes)

PULMÃO DO MUNDO

eterna esperança
ah! Mundo bandido,
a Amazônia expirra
(Marília Baetas)

SECA

Na sede que me abafa
Procura intensa pelo líquido
O leito do rio sem água
(Regina Lyra)


NATUREZA MORTA

no oco do tronco decepado
uma arara ferida
choca um machado
(Marilda Confortin)

Tchello de Barros



Cálice de silêncio

Cálice de silêncio
 
matei minha saudade a grito
a soco
a pontapé
chute no saco
tacle no pescoço
pontaço no peito
sete tiros da cabeça ao pé
depois da chacina
já sem a gana assassina
chorei atrás da porta
de saudades da morta
mesmo sabendo que ia dar em nada
chorar sobre a lágrima derramada

Antonio Thadeu Wojciechowski

Maria e José


(Da série: “histórias secretas de amigos e inimigos” – por Marilda Confortin, com a co-autoria e cumplicidade das personagens)

- Oi. Você é São Caetano?
- Não. Sou Santa Maria e você?
- Atlético. Vai me dizer que você é Coxa Branca?
- Sou. Bem branquinha.
- Ah! Que merda. Então porque está com essa blusa azul-são-caetano?
- Não é azul-são-caetano. É verde-coxa, homem.
- Como teus olhos.... verdes e profundos como o mar.
- Não são verdes! São azuis. Você é daltônico?
- Não. Eu sou José. E você é...?
- Já falei, sou  Maria.
- Maria e José. Que romântico... To a fim de fazer uma arte contigo hoje, Maria. Você faz arte?
- Eu faço poesia, serve?
- Não era bem isso que eu tava pensando... sou engenheiro, não entendo nada de abstrato. Só de concreto.
- E eu sou poeta e não entendo nada de cantadas. 
- É...já vi. Pra quem você torce na primeira divisão?
- Torço pro resultado ser exato. De preferência igual a zero. Tenho pena do resto da divisão. Ninguém liga pro resto da divisão. Ninguém compreende uma dízima periódica... Não gosto de divisão nem subtração. Só de soma e multiplicação. 
- Eu to falando de futebol, sua loira burra!  Do campeonato paranaense. To falando de bola desenhando uma parábola no ar e procurando um par de pernas pra entrar. Gooool.
- Ah... Eu não entendo nada de futebol e a única parábola que conheço é a do filho pródigo. Porque raios você me abordou?
- Pra me livrar do cara chato que tava sentado aí do meu lado. Ele é um saco.
- Humm...  e precisava ser salvo pelo gongo...
- Isso! Por um lindo gongo azul.
- Tinha um gongo no meio do caminho. No meio do caminho tinha um gongo. Conhece esse poema?
- Era um gongo? Por isso nunca entendi esse poema. Pensei que era uma pedra. Você já escreveu alguma poesia?
- Sim. Várias. 
- Sério? E tem algum livro publicado?
- Mais de meia dúzia. Quer um?
- Você é uma escritora famosa? Agora fiquei nervoso. E quando fico nervoso preciso mijar. Não saia daqui! Nunca conheci uma poetisa viva...  Péra aí tá? Deve ser bem interessante... poetisa é? Essa é nova prá mim.
E ele foi mijar.
Bar da Brahma cheio. Minhas amigas na mesa, de mini-saia, pernas bronzeadas, lindas, solteiras loucas pra dar e nenhum cristo cantando elas. Eu, casada, cansada de brigar com o marido, de porre, com uma blusa emprestada, ridiculamente verde e um cara pedindo para eu esperar enquanto ele mijava. Pode?
Só quero ir pra minha caminha. Sozinha. Curar esse pilque...
- Esse cara tem barulho de trem na cabeça. - disse Cinthia, minha amiga.
- Tem mesmo, confirmou Celita - a dona da blusa verde-coxa que eu usava. Barulho de carroça vazia...
Chamei o garçon e pedi uma Skol.
- Não tem Skol aqui. Só Brahma - disse ele.
- Não gosto de Brahma. Me dá uma coca-cola.
O garçom ficou me olhando com aquela cara de ponto de interrogação, apontando pra  placa com o nome do bar e disse:
- Qualé, dona? Não percebeu onde a senhora está ?
- Não entendi. Onde estou?
Ele falou bem baixinho no meu ouvido “a senhora está no bar da Brahma”.
- É? E daí? É proibido beber neste bar? 
Indignado ele disse que só tinha Pepsi.
- Não gosto de Pepsi. Então me dá um guaraná Antártica. Preciso repor glicose.
O cara ficou mais puto ainda, me xingou de burra e não me trouxe nada.
Garçom bobo e mal criado. Eu lá quero saber quem fabrica o quê. Só quero beber, pô.
Foi quando o tal engenheiro voltou.
- Fez xixi? – perguntei.
- Homem não faz xixi. Homem mija, mulher. Mijo sai do pinto, caralho! Nossa senhora, que pernas!
- Pare de olhar pras pernas das minhas amigas, seu tarado!
- Tira os seus peitos do caminho que eu quero passar com a minha dor... lembra dessa música?
- Lembro. Do Nelson Cavaquinho, né? Mas não é peito. É sorriso. Vamos falar de engenharia, que é a tua praia. Eu gosto de teodolito e papel vegetal. E você?
- Teodolito?
- É divino. Nunca comeu? Teo é Deus? Um enorme Deus em forma de pirulito embrulhado numa folha de papel vegetal transparente. Papel vegetal não é a salada preferida dos engenheiros?
- Você é louca ou o quê!
- Sou o "quê".  E você é muito engraçado.
- Tá me chamando de palhaço? Sou engenheiro. E dos bons. Acha que não entendo nada de arte, é? Pois na última palestra, abri a apresentação com uma imagem da Pedra da Gávea para mostrar o que é uma obra prima divina. Sempre passo um pouco de poesia e cultura para essa piazada burra que sai da faculdade.
- Isso é bom. Eu também uso algumas metáforas nos cursos. Falei das Cidades Invisíveis, do Calvino e citei um poema do Leminski na última apresentação de Tecnologias que fiz.
- Eu já ouvi falar desse tal Calvino. E li o Catatau mas não entendi patativa nenhuma. Não gosto desse polaco.
- Eu gosto dele. Até tomei umas vodcas Majakowkj com ele. Era fabricação minha e de um amigo chamado Douglas. 
- Porra... Quem é você? Fabricava e tomava vodca com o Leminski?
- Tomei, e daí?
- Mas ele está morto! Você é fantasma por acaso? Uma alucinação alcólica?
- Calma. Ele estava vivo ainda. E eu estou estou viva também... acho. Se eu morrer amanhã você vai dizer que me conhecia e que eu era uma boa pessoa?  
- Não sei se você é boa. Ainda não te comi. Amanhã te digo. Tenho cara de tio?
- Tem. Por quê?
- Porque não sou mais tio. Hoje eu fiquei avô.
- Sério? Parabéns, vovô!
- Nasceu hoje de tarde. É uma coisinha tão feinha, uma bolinha murcha, enrugada, toda enroladinha...
- Que lindinha!  Você deve estar feliz com a netinha.
- To sim... to muito feliz... Vou ter que sustentar mais uma boca. Eu quero é pegar aquela bolinha de meia, enroladinha em cueiros e fazer embaixadinha com ela no corredor da maternidade e chutar pro gol. Gooooool! Já pensou? Uma bolinha viva saindo pela janela procurando um gol? Uma bola de gente, inteligente cantando "Atlético, Atlético! Conhecemos seu valor e a torcida rubro-negra..."
- Fanático. Pare com isso. É tua neta.
- É neto. Macho! Tem duas bolas. Eu tenho três filhas, uma mulher e uma sogra que mora comigo. Estou cheio de mulher. Não agüento mais mulher na minha vida. Elas não me deixam chutar a bolinha de gente. Dizem que vou quebrar os vidros do berçário.
- Três filhas, mulher, mora com a sogra e agora tem um neto... era só que me faltava. Você disse que era separado...
- E sou. Tô dormindo na sala. Desde ontem.
- Briguinha a toa. Dói um dia e depois passa.
- A única dor que sinto é nas costas. Tem uma mola solta no sofá...
- E você, tem um parafuso solto na cabeça. Por falar nisso, to com sono.
- Eu também. Vamos dormir?
- Vamos.
E fomos dormir. Literalmente. Cada um no sofá de sua própria sala.
O quê você esperava  de uma história de Maria e José que se passou num bar, com dois cinqüentões torrados, frustrados, infelizes, as quatro horas da madrugada em pleno século XXI numa cidade fria como Curitiba? 
Que nesse cruzamento inusitado nascesse um lindo jesuscristinho, que perdoasse todos os nossos pecados, curasse nosso porre e nos devolvesse o paraíso? 
Cai na real, Zé!
E foram infelizes para sempre
.

Poesia Origens

Origens

O que me faz escrever
é a vontade de recuperar
minhas vontades.

Eu queria que as palavras
pingassem como chuva,
regando as folhas de papel,
que um dia foram árvore.

Queria devolver a vida
às florestas abatidas.

Queria que meu pensamento
deslizasse livre como o vento,
sem escolher caminhos
nem pedir permissão
para se expressar.

Desaprender o pensar.

Abrir os olhos
e deixar o sol iluminar meus escuros,
germinar as sementes que plantei 
quando ainda não sabia o que sei.

Onde deixei minhas ganas?
Tanto investi em cultura
que perdi o instinto natural.

Era só deixar a natureza agir...

Usei adubo químico,
sementes hibridas, herbicidas.
Matei as pragas
e as esperanças também.

Eu só queria sentir agora
o gosto puro da amora
antes do pecado original.

Poesia Óleo sobre tela


Óleo sobre tela

Pouso meus olhos sobre telas de Van Gogh.
Deito-me ao lado do ceifador
e adormeço sobre feixes de trigo.

Cena familiar.

Cedo ao sonho.

Retrocedo à infância.

Vejo-me criança, pura
como a loucura do pintor.
Inerte, braços abertos,
no meio do trigal maduro,
fingindo-me espantalho.
Um gérmen ainda.
Nem sabia o que era poesia
e já sentia.

Os pássaros pensam
que meu cabelos brancos
são feixes de palha.
Espanto-os.

Da janela do sanatório
Van Gogh se espanta

e borra um corvo sobre o campo de trigo.

Acordo.
Kurosawa sonhou comigo?

Marilda Confortin