Cartas literárias

Tonicato e eu, estaremos lendo poesias e cartas literárias (inclusive uma inédita da Helena Kolody). Duração aproximada de uma hora e meia, intercalada por música instrumental do grande violista Gegê Félix.
Promoção de LaBeMol Produções Artísticas, com apoio da Choperia Colarinho.



Valeu Gegê e Tonicato!


Uma das cartas que li:

Neste momento não sei qual tratamento devo usar contigo.
Querido, prezado, caro ou estimado amigo? Nem sei se ainda somos amigos. Vou deixar em branco a saudação inicial de nossas cartas.
Não sei se o que vou escrever será uma carta literária ou apenas resposta à tua mensagem. Vou escrever assim mesmo, sem travas na língua, como sempre fiz.

A fera voltou, por Silvério da Costa

JORNAL: SUL BRASIL - 8 DE MARÇO DE 2012
COLUNA: FRONTE CULTURAL
COLUNISTA: SILVÉRIO DA COSTA


A FERA VOLTOU!

“Busca e apreensão, de Marilda Confortin, uma chapecoense radicada em Curitiba há muitos anos, é um livro de poesias que vai além da própria poesia, porque penetra nos meandros da psicologia, do destino do ser humano e das contradições da vida, servindo de embocadura para chegar à reflexão sobre a condição humana e a existencialidade, com tudo que tem direito, tendo o humor refinado e sarcasmo como linha de frente.


Marilda explora os diferentes caminhos da poesia, vinculados ao cotidiano, com uma forma de abarcar temas diversos, embora prevaleçam os de cunho mundano-erótico-libidinosos, regados a doses etílicas que deixam qualquer Baco de quatro, como forma de libertação.

“Busca e Apreensão” é um livro que olha para o passado, sem sair do presente, para revelar o futuro, porque enfoca o dia a dia do ser humano através de uma linguagem multifacetada e poliédrica, criando uma harmonia pluridimensional, com o envolvimento de grandes nomes da poesia universal como Florbela Espanka, Liminski, Neruda, Maiakówski e outros, misturando poemas prolixos com poemas sintéticos, como os que fazem parte do Movimento Internacional Poetrix (poemas de três versos), do qual Marilda é uma das principais cultoras. Ela é uma poeta plural, heterogênea, que mistura, sem pejo, tradição com modernidade, para elaborar suas ideias e transformá-las em poemas cujos versos têm, muitas vezes, uma só palavra, ou menos que isso, fragmentando-os, e unindo-os, e superpondo-os, formando novas configurações.


Marilda Confortin é uma poeta irrequieta, que busca na desordem do universo (seu e dos outros) o material para sua realização substancial, sem meias palavras, deixando claro o seu inconformismo com a lida e com a vida, sem falar das peleias metafísicas. Sua poesia é o resultado da inventividade e da insubmissão, usando para isso uma linguagem pícara e de duplo sentido, exercitada em jogos frasais e trocadilhos, valorizando a semântica e fazendo confluir para a concretização da poesia, uma poesia sem adereços, sem elucubrações e com endereço certo. As suas ferramentas são a sensibilidade e a competência, que a têm projetado para o Brasil e para o mundo. Parabéns!

extraído de: http://www.literaturacatarinense.com.br/marilda/materias.htm



Silvério Ribeiro da Costa é brasileiro naturalizado. Nasceu em Porto, Portugal, mas reside no Brasil há muito tempo. Publicou dezenas de livros, participou de mais de sessenta antologias, escreve poesia, prosa, resenhas, notas e crítica literária. Faz parte de diversas instituições culturais do Brasil e exterior, entre elas a IWA-International Writers Association and Artists, com sede em Ohio-E.U.A. Tem trabalhos publicados em revistas e jornais de vários países e já foi traduzido para o Espanhol, Francês, Inglês, Italiano, Esperanto e Grego.
Assina coluna Fronte Cultural, no Jornal Sul Brasil.




Lota Moncada

Ando lendo e ouvindo muito a Lota Moncada. Eu só a conhecia como atriz, mas em 2011 conheci a poeta e me encantei.




Compartilho com vocês, o poema "El día se levanta", de e por Lota Moncada.

Poesia Por volta do meio dia

Por volta do meio dia

Tonicato Miranda

Dois do ano, Janeiro é o mês
Emprestando de Thelonious Monk
"por volta da meia noite" quase fria
Ouço Miles Davis
por volta do meio dia.
Tudo está tão calmo
Ninguém distante virá à mesa
Não há preces, nenhum salmo
Vamos calados comer
da salada à sobremesa
Vamos calados beber
o desjejum de quem acorda de tarde
e diariamente morre antes de dormir tarde.
A vida continua áspera
E em corte brusco
vejo na janela um arbusto
A luz se abre em saudades
uma metade minha foi
em busca do rosto dela
Eu, velho etrusco, tosco
idiota rouco, quase boi
pasto a procura de rostos
no capinzal do acaso
Na terra do talvez
vou franzindo a própria tez
Testemunhando a solidão
por volta do meio dia.
Aqui, às voltas do almoço
como meu soluço solitário
Talvez troque a comida
por baforadas de um cigarro
Para flutuar lembranças
há tempo presas no armário
Mas não, comerei a comida fia
por volta do meio dia.
Curitiba, 2/1/2013.

tm

Poesia Restos de ontem


RESTOS DE ONTEM

(Marilda Confortin ouvindo Edith Piaf - non, je ne regrette rien) 



Très bien...
cá estamos nós
a sós,
entre papéis de presentes,
enfeites desfeitos,
Noéis e laços de Natal.


Tudo continua igual.
"Non, rien de nouveau"
O mundo não acabou
a profecia Maia se enganou
e mais uma vez
vamos comer
les restes d´hier.


Vesti um peignoir
para combinar com a lingerie
que você me deu
exscusez-moi, mon amour
nem cheguei a tirar.
Dormi antes de você
apagar o abajour.


Fiz um patê
com as sobras do peru,
um sagu de cabernet sauvignon,
pudim de pão, rabanada
e uma salada de agrião.


“Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien”


Eu também não, meu bem.
Por você
eu comeria todo dia
“restê d´ontê”


estela maia



Monumento 6 de Tortuguero. Estela maia que assinala o dia 23 de dezembro de 2012 como o fim de um ciclo e início de outro.

Não matem. Não morram. 
Os maias previram o fim de uma era e começo de outra. 

Quem viver, verá. Vivamos, pois!