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Entrevista Marilda Confortin


"Em fevereiro, a AIP - Academia Internacional Poetrix apresenta a entrevista com a sua Presidente (março/2021 - março/2023), a Acadêmica Marilda Confortin.

Marilda Confortin é analista de sistemas, bacharel em turismo, escritora, poeta, compositora de letras de músicas. Realizou exposições de Poesia, recitais e oficinas em escolas e universidades. Participou de Festivais Internacionais de Poesia.

Sua biografia, bem como seu discurso de posse além de outros textos, podem ser lidos no site oficial da Academia Internacional Poetrix"

Entrevista concedida à Dirce Carneiro

1) Você nasceu em Santa Catarina, viveu também no Paraná. Ser do Sul define um modo de ser?

Para ler a entrevista, clique AQUI

Entrevista Marilda Confortin, concedida para revista Poetrix 8


Link para a REVISTA POETRIX


Como você conheceu o poetrix?

Fui apresentada ao Poetrix por Hércio Afonso de Almeida, numa sala virtual, por volta de 2001. Hércio me disse que participava de um grupo que escrevia uns tercetos “diferentes”, e me enviou algumas amostras de sua autoria e de outros autores. Fiquei extasiada! Reli inúmeras vezes degustando cada palavra daquelas “iscas”. Fiz algumas tentativas, até que em meados de 2002, ele me apresentou ao Goulart Gomes e ao grupo dos primeiros poetrixtas. Estavam organizando a primeira Antologia. Meu baú de Poetrix ainda estava meio vazio, por isso participei da primeira Antologia como convidada. E depois, de todas as outras. Permaneci no “yahoo grupo” e no MIP, aprendendo. Sou aprendiz eterna.

Como presidente da Academia Internacional Poetrix, quais as propostas atuais e futuras da Academia?

Essa é a primeira diretoria completa e eleita da AIP. Nosso objetivo nesse primeiro ano é promover atividades que nos ensinem a convivência harmônica e responsável entre acadêmicos. Exercitar a crítica e autocrítica, elevar a qualidade de nossa escrita e nos conhecer além de poetrixtas, mesmo que virtualmente. Para atingir esse objetivo, estamos promovendo Saraus, Berlindas e Concursos mensais de Poetrix entre os acadêmicos.

Criamos um site para dar acesso público à pesquisas das biografias, discursos, produção dos acadêmicos e não acadêmicos que nos enviam seus Poetrix para para publicação. O endereço do site é  https://www.academiapoetrix.org/. O e-mail para envio de Poetrix é academiapoetrix@gmail.com. Mandem seus melhores poetrix para publicarmos na página oficial da Academia.

Em maio de 2021, abrimos a possibilidade dos acadêmicos enviarem suas dúvidas e sugestões sobre a redação da Bula Poetrix, que foi escrita antes da criação da Academia. Estamos “bulindo” os textos que nos enviam e posteriormente faremos uma Assembleia Geral para “batermos o martelo”.

Em agosto de 2021, iniciamos os procedimentos de inscrição para a seleção de cinco novos membros da AIP. Acompanhem pelo site da academia.

No segundo semestre de 2021, retomaremos a criação do canal no Youtube da AIP, para realização de entrevistas, conversas, oficinas, saraus online, exposições de poetrix, grafitrix, videotrix entre outras coisas.

Já para meados de 2022, além da continuidade de todas as atividades citadas acima, vamos iniciar um ciclo de debates entre os acadêmicos, visando atualizar alguns itens do Estatuto e Regimento.

Temos outras propostas que dependem da finalização das etapas acima. Vamos deixar para conversar sobre elas mais tarde.

O que é o poetrix para você? O que nele te encanta?

Poetrix para mim é como um raio à noite. É isso que me encanta: O rápido clarão iluminando coisas que sempre estiveram aí e a claridade poluída de informações do dia-a-dia me impedia de ver.

O que precisa ter um bom poetrix?

Precisa ter as características que o definem como Poetrix, sem perder a poeticidade. Precisa sair do óbvio e surpreender o leitor. Poetrix é minimalista, não pobre de poesia.

Como usar o poetrix no trabalho pedagógico?

Não sou pedagoga, mas convivi com esses profissionais e estudantes no período de 2000 a 2015 quando trabalhei na Secretaria de Educação de Curitiba e ministrei várias oficinas de poesia minimalista. Aprendi muito sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças, conteúdo curricular e em que fase determinado tipo de literatura pode ser ofertada aos estudantes para que compreendam, se encantem e queiram escrever. O Poetrix não é uma poesia infantil. É complexo demais e exige uma bagagem de conhecimentos que as crianças ainda não possuem. Pos isso, não recomendo o Poetrix para crianças.

Como ferramenta pedagógica, o Poetrix pode ser utilizado sem restrições no Ensino Médio e Superior. Já no Fundamental, é recomendado a partir do ano/série em que as Figuras de Linguagem entram no Currículo Escolar. Normalmente, é lá pelo 7º ano, quando já não são crianças e sim pré-adolescentes com seus 12 ou 13 anos de idade e conseguem transportar algumas Figuras de Linguagens e outros recursos de linguagens às suas realidades, associando-as com suas próprias falas, músicas que ouvem, gírias e expressões que circulam nos seus grupos de amigos. É um processo gradativo. Os adolescentes gostam do Poetrix, mas Bula completa é um bicho de sete cabeças para essa faixa etária. Normalmente eu uso um resumo nas minhas oficinas.

Poetrix é um gênero novo. Os professores não têm contato com o Poetrix nos cursos de Licenciatura. Não é uma poesia obrigatória. Por ser um poema “curtinho”, alguns acham que é igual a haicai, trova ou poesia infantil. Portanto, se você for convidado a dar uma oficina de Poetrix em escolas, pergunte primeiro qual é a faixa etária do público alvo. Imagine-se falando sobre Figuras de Linguagem e as Seis Propostas, do Calvino, para trinta crianças que ainda estão aprendendo a ler/escrever. Já aconteceu comigo e foi um desastre. Acabei brincando de ciranda cirandinha e deixando as crianças se divertirem. É recomendável aplicá-la antes aos professores para que saibam das características do Poetrix e possam dar conta do recado depois que você sair da sala de aula.

Que dicas você daria para os novatos e para quem já faz poetrix, mas sem conseguir excelência?

Leia e escreva muito. Não só Poetrix. Escreva sem se preocupar se será uma poesia quilométrica ou um dístico. Deixe o texto repousar alguns dias e depois comece a “bulir” nele com a Bula na mão. Por mais que doa, corte palavras repetidas, frases com o mesmo sentido, rimas pobres ou em excesso. Tente "enquadrar" o que restou do texto nas regras do Poetrix. Bula mais um pouco eliminando a obviedade; pesquise palavras novas e outras perspectivas para o tema. Valorize a poética. Metáfora é apenas uma das várias Figuras de Linguagem. Conheça-as. Use outros recursos da escrita. Provoque uma surpresa no leitor. Busque o famoso “susto” do Poetrix descrito por Lílian na coluna desta edição da Revista. Tenha paciência e contenha o impulso de publicar imediatemente. O importante não é a quantidade de Poetrix que você escreve, mas sim a qualidade. Crie um acervo/arquivo de ideias e revisite-o periodicamente.

O que você acha que precisa ser feito para o poetrix ficar mais conhecido?

Apesar de ter inúmeros praticantes, o Poetrix ainda é muito jovem comparado aos seus parentes famosos mais próximos, como o haicai e a trova. A Academia Poetrix recém foi criada. Estamos engatinhando ainda.

Ajudaria muito se a ABL reconhecesse o Poetrix e o incluísse no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Goulart Gomes enviou pela segunda vez esse pedido à ABL. Quando a AIP estiver registrada oficialmente e com seu quadro de membros completo, poderemos endossar e embasar essa solicitação.

Outra coisa que ajudaria é ter um texto oficial da AIP, orientativo, enxuto e com exemplos. Como uma “Bula para Iniciantes”, contendo os elementos obrigatórios do Poetrix, numa linguagem coloquial, fácill, para que os professores possam utilizá-lo como apoio pedagógico em suas aulas e para que os poetrixtas iniciantes sejam instigados a ler e interpretar outros textos mais longos e/ou mais complexos.

Gostaria de acrescentar algo importante?

Sim. Temos que perder o medo de submeter nossos Poetrix à análise de outros. Aprender a fazer e ouvir críticas, sugestões e argumentar sem ofender os colegas. Os grupos de Poetrix servem para isso, não só para massagear o ego um do outro. É agradável só elogiar ou receber palminhas, mas, não ajuda o poetrixta a melhorar sua escrita.

Deixe um poetrix de sua autoria em homenagem à confraria, nosso tema do trimestre.



Confraria

Comunhão de Pessoas
Alimento: Poesia
Ca(u)sa nobre!


Marilda Confortin, analista de sistemas aposentada, mãe de dois filhos, catarinense com 65 anos, desses,  quarenta vividos em Curitiba; Publicou meia dúzia de livros, sendo um de Poetrix; Integrou várias coletâneas brasileiras e estrangeiras; Letrista com duas músicas premiadas em festivais. Recitou poesias em botecos e igrejas; ministrou oficinas do Poetrix em escolas e universidades. Como representante do Brasil, participou de três festivais internacionais de poesia. É presidente da Academia Internacional Poetrix, gestão 2021 a meados de 2022. https://www.academiapoetrix.org/ https://iscapoetica.blogspot.com/ 

Poetrix, um terceto que nasceu no Brasil - por Mariana Braga



Há duas semanas, fui procurada por Mariana Braga, repórter do Jornal Comunicação da Universidade Federal do Paraná.  Queria conhecer o Poetrix,  Não nos conhecíamos. Marcamos na frente da sala de empréstimos da Biblioteca Pública. Fazia um frio inesperado como só Curitiba sabe fazer.

Estudantes alegres, cobertos por casacos largos e cachecóis coloridos, amarrados com nós criativos, entravam e saíam da Biblioteca aos pares, trios, montes, tropeçando em mim, sem me ver.
Senti saudades de quando eu freqüentava a Biblioteca Pública e também achava que o mundo era só meu e de quem estivesse comigo naquele instante.

- Mariana? 
- Marilda?

Sim, éramos nós.  Escolhemos uma mesa e conversamos muito, sem pressa. Seus olhos brilhantes e curiosos lembravam o olhar de meus filhos, pequenos, quando eu lhes contava uma história nova. Ela ainda não estava contaminada pela pressa dos jornalistas, pela limitação das laudas, pelos cronogramas e pelas matérias encomendadas. Ela escolheu escrever uma matéria sobre Poetrix. Uma poesia nova. Uma nova história. Que maravilha! E ainda melhor: Disse-me que faria um “tubo de ensaio”. Imaginei uma sementinha de poesia germinando dentro de um tubinho de vidro, crescendo, espreguiçando-se como um pé de feijão, sob o olhar deslumbrado de uma criança. É isso que ela faria. Depois de reunir a informação necessária, ela mesma se submeteria à experiência de produzir poetrix e contar aos outros quais foram suas dificuldades, facilidades, sensações e emoções. Mariana revelou-se uma poetrixta. Leiam abaixo a matéria e o resultado do "tubo de ensaio".

A partir daqui, o texto é dela. Obrigada, Mariana por  nos presentear com essa experiência.  


Poetrix, um terceto que nasceu no Brasil

Gênero poético tem apenas uma década e é muitas vezes chamado de "filho bastardo" do Haicai

Reportagem: Mariana Braga
Edição: Carolina Goetten 
matéria publicada em 19/05/2010 (disponível nos arquivos da UFPR):
http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/8208

              

sol cores e flores
na Festa da Primavera
saia da menina
(Débora Novaes de Castro)


Al dente 
 
Não há futuro ao ponto
Quando o presente
É mal passado
(Marilda Confortin)

 
À primeira vista, um leitor disperso incluiria os dois tercetos acima no mesmo tipo de classificação, pela forma aparentemente semelhante como foram construídos graficamente. Mas basta uma reflexão um pouco mais atenta para notar distinções essenciais nos poemas, que são enquadrados em gêneros diferentes de poesia: Haicai e Poetrix, respectivamente.

“O Haicai é um terceto estruturado há milhares de anos e tem formatação de 5-7-5, com no máximo 17 sílabas poéticas”, descreve a poeta Marilda Confortin, membro do Movimento Internacional Poetrix. A métrica 5-7-5 correlaciona versos e sílabas: o primeiro verso, no haicai, deve ter cinco sílabas poéticas, seguido de um segundo com sete e o terceiro, conclusivo, com cinco. Dentro da categoria minimalista, o Poetrix não pode ultrapassar 30 sílabas poéticas, mas não determina normas para a distribuição destas sílabas dentro do poema. “O objetivo é dizer muito com o mínimo de palavras”, explica Marilda.

A partir desse entendimento, os tercetos de Paulo Leminski, por exemplo, são erroneamente chamados de haicais, porque a essência do gênero poético milenar, oriental e de métrica rigorosa não era seguida à risca. No artigo "Poetrix: um jeito brasileiro de fazer tercetos", a escritora Lilian Maial explica que o haicai se consagrou como poema descritivo: enquanto tal, costuma identificar a estação do ano – no Japão, chamada de kigo – em que acontece o momento retratado nos versos.

Outras diferenças
A poeta Kathleen Lessa explica algumas diferenças fundamentais entre as duas vertentes poéticas.

Quanto ao tema

O haicai versa sobre a natureza: estações do ano, flores, frutos, animais, tempo, clima, mudanças, etc. Ele “acontece” no momento em que é escrito. É como um flash fotográfico, apresentando a inspiração que o autor captou ao observar uma cena, obrigatoriamente no tempo presente.
O poetrix tem temática livre e pode acontecer no passado, presente ou futuro 

 
 
Quanto ao narrador

No haikai, o autor não interfere na ação. Só observa e narra o momento
No poetrix o autor pode aparecer, interferir, falar de si, expor sentimentos.

Quanto às rimas

No haicai tradicional, a rima não é admitida (a menos que seja interna, no verso);
No poetrix, a rima é opcional.

Ao contrário do Poetrix, que instiga, o haicai não deve deixar dúvidas para o leitor. Segundo Marilda, é um terceto contemplativo. “Se ele diz que as folhas estão no chão, elas realmente estão no chão”, assinala a escritora. “O poetrix é mais nosso. É mais livre”.

Os tercetos tropicais foram organizados pelo poeta baiano Goulart Gomes no gênero Poetrix. Marilda explica que o novo gênero de terceto, criado em 1999, admite ironia, metáforas, neologismo e estrangeirismo, não aceitos em haicais, além de ser urbano e atemporal. A etimologia deriva de Poe (poesia) e Trix (três).

Ter definido um novo gênero de terceto não significa que existe uma guerra entre haicaístas e poetrixitas. “Nós não somos uma frente de combate ao haicai. Temos muito respeito. O poetrix é um terceto que resolveu assumir sua diferença e não ficar brigando”, assinala a poeta.

Existem outros detalhes que distinguem os dois tipos poemas. O haicai não admite título, enquanto este é muitas vezes um complemento do Poetrix. “Ele [o poetrix] conversa muito com todas as mídias”, ressalta Marilda.

 O mínimo é o máximo

Pelas figuras de linguagem e pluralidade de sentidos, não basta que alguém leia um poetrix em voz alta para outra pessoa. Muitas vezes o terceto lança mão de jogos de palavras que só podem ser compreendidos através da leitura, como no caso do poema (con)tato, de Marilda Confortin:

(con)tato

dedilho improvisos
 teu corpo jaz(z)ido
 acorda blues

A nova vertente poética conquista cada vez mais adeptos. O Poetrix já fez surgir mais de cem mil poemas na internet, realiza prêmios às melhores poesias e começa a se tornar referência literária no Brasil e no mundo. Nos versos, trabalha-se a intensidade literária, os termos non-sense, a crítica, o erotismo, a intertextualidade - o máximo de conteúdo em até 30 sílabas poéticas.

Movimento Poetrix

“O hai-kai é uma pérola; o poetrix é uma pílula”. É assim que o coordenador do Movimento Internacional Poetrix (MIP), Goulart Gomes, distingue o recente gênero de poesia. Ele explica na Bula Poetrix que esse tipo de poema é "um projétil em direção ao alvo”.

A Bula (uma espécie de beabá Poetrix) surgiu depois de a novidade confundir alguns leitores e poetas que pediram por uma organização das regras estruturais do gênero de poema. Além da regulamentação das características que devem estar presentes no Poetrix, Goulart Gomes lançou O MIP, que surgiu em 2000 e tem o objetivo de divulgar os poemas e seus autores.

Goulart é professor, mestre e doutor em Literatura e autor premiado. Mas embora o fundador do movimento seja envolvido com ambiente acadêmico, isso não é regra entre os poetrixistas: o Poetrix é arte de qualquer profissão. “Existem professores, mas também médicos. Eu sou analista de sistemas”, conta Marilda Confortin. Para ela, poesia é para todos os bons leitores. Alguns desses poetrixistas possuem poemas publicados nas antologias Poetrix, que ano passado chegou à 3ª edição.

O Poetrix já é rebelde por sua própria essência, e dentre os próprios poetrixistas houve quem se manifestou para ampliar as características do poema, que são aceitas pelo MIP. Carlos Fiore criou o Tautotrix, baseado no tautograma. Ou seja, é um Poetrix que se utiliza de palavras que começam pela mesma letra:

Pulsação

Podem pintar poemas,
Prosas, poesias, palavras.
Pessoas pensam. Pulsam.

Existem outras formas múltiplas desse gênero de poema, como o Duplix criado por Pedro Cardoso e Tê Soares, que apresenta dois Poetrix se entrelaçando através da intertextualidade.


A experiência da repórter Mariana Braga como poeta 
no Universo Poetrix (Tubo de Ensaio)

 

Poetrixando na prática

A sensação de construir versos no formato Poetrix é tão instigante quanto a de lê-los

Poetrixar
Mariana Braga

eu (ar)risco versos
mas algumas palavras f o   g     e          m
perdem-se nas inspirações

Sentei-me à escrivaninha para escrever meus próprios Poetrix, após conversar com a poeta Marilda Confortin na Biblioteca Pública do Paraná e ler Lua Caolha, sua coletânea de poemas do estilo. O amor com que ela se referia ao Poetrix me cativou. Ao folhear diversos livros e arrastar a barra de rolagem de incontáveis sites sobre a vertente poética, fiquei fascinada com os efeitos que esses pequeninos tercetos atingem. Foi quase viciante. Lia um e corria para outro, enquanto algumas ideias me surgiam à mente.

Achei que minha missão seria dizer muito com poucas palavras, mas colocar sentimentos em apenas três versos não é o mais difícil. Poetrix exige muito além da palavra em si. E, pequeno, lança mão de uma linguagem na sua maior intensidade e clama por ousadia ao utilizar todas as ferramentas linguísticas possíveis.

Por ser recente, alimenta-se de todas as mídias, como explica Marilda. Procurei aplicar aos meus poemas imagens que representassem na maior dimensão possível os meus sentimentos ou interpretações. Às vezes, podem aparecer imagens ou sons. Mas boa parte dos poetrix apresentam letras entre parênteses ou mudanças sutis no texto para explorar o sentido da palavra. Utilizei em um poetrix a mudança de tamanho da fonte:

Cidade sou riso?

esconde o sol na manga
o curitibano
frio

Nesse poema, registrei uma impressão que tive ao passear pela Rua XV em uma cinzenta manhã de sábado. Apesar de descrever aquele momento em meu próprio Poetrix, o sentimento narrado é atemporal, aplicável a diversas ocasiões. Caso eu quisesse produzir um haicai, eu talvez não pudesse dar à palavra “frio” mais de um sentido, trazer-lhe ambiguidades e confusões e misturas de significados. "Frio" significaria apenas o registro de tempo e estação do ano e não poderia indicar, ao mesmo tempo, a característica de um personagem. Meu poema ficaria incompleto.

“Quanto mais se extrair de uma palavra tudo aquilo que ela foi feita para dizer, melhor. Sempre tem duplo, triplo, quádruplo sentido". É o que Marilda chama de "privilegiar a inteligência do leitor", que não pode ganhar tudo de bandeja, já pronto. "Queremos que ele mastigue, engula, faça a digestão”.

A estrutura do poema permite a inovação, as aventuras, apostas, riscos, jogos. O título, que não entra na contagem de limite de sílabas métricas, pode interagir com o Poetrix. Em vez de usar a palavra mar em um deles, escrevi As três primeiras letras do meu nome, o que significa que, além de referir-me ao próprio mar, discorro sobre algo que faz parte de mim de uma forma especial.

As três primeiras letras do meu nome

Poesia embalada pela brisa
Água e sal que tem graça
Ah-mar!

Esse Poetrix foi inspirado em um texto que escrevi há alguns meses, constituído por três parágrafos por onde se distribuíam 1.283 caracteres. Sua essência não se perdeu por ter de se apertar em apenas três versos: o que eu queria transmitir de mais importante naquele texto ganhou evidência no formato Poetrix.

Fiz isso porque Marilda me recomendou sintetizar textos ou matérias jornalísticas através do Poetrix. Ela costumava criar poemas para resumir relatórios prolixos. “Estamos em um mundo sem tempo para grandes leituras”, constata a poetrixista. Além de o Poetrix contribuir para facilitar a criação de textos resumidos, é uma saída para quem tem o fator "pouco tempo" como pretexto para a falta de leitura.

Mas, para quem escreve, o melhor parece ser encontrar termos polissêmicos, ironias e jogos de palavras do cotidiano que caibam bem ao papel. Depois de ensaiar alguns Poetrix, meus sentidos estão mais atentos. Poetrixar é a atividade de deliciar-se com tudo o que se vê, ouve e sente. Por isso, eu parafraseio Goulart Gomes: Haicai é uma bela fotografia, mas Poetrix… Poetrix é um delicioso chocolate.


Entrevista com o poeta JB Vidal

ENTREVISTA COM O POETA JB VIDAL

                                        por Marilda Confortin


Conheci João Bosco Vidal em Curitiba, no Café & Cultura, onde nasceu um movimento batizado de "Quinta dos Infernos" que reunia poetas, músicos, jornalistas, artistas plásticos e outros bichos grilos. Tanto o café quanto o movimento foram devorados em menos de três anos pela massa antropofágica curitibana que insiste em contradizer Lavoisier: Aqui, nada se cria, nada se transforma.

Gaucho  de Bagé, administrador por profissão, JB Vidal atuou no meio empresarial, político e artístico cultural da cidade de Curitiba e do estado do Paraná.  Muitos dos poetas jovens que freqüentam a noite curitibana, foram influenciados pelo seu jeito irreverente de ser. 
Irrequieto, questionador, dono de um texto contundente e de uma língua ferina, sua mãe costumava aconselhar “cuidado com as más companhias, Joãozinho”. Pessoalmente acho que o Vidal  conviveu consigo mesmo por um tempo muito longo e só recentemente compreendeu o que sua mãe dizia.

Tratou de se reinventar. Mudou de residência para Santa Catarina, sem avisar ninguém e agora vive com sua mulher Rosangela numa acolhedora casa em Florianópolis, na praia dos Ingleses, onde tem a piscina mais quente e a cerveja mais gelada do sul do Brasil.

Dedica-se ao seu blog cultural Palavras todas Palavras, escreve diariamente, está com o livro de poesias “Ofertório” no prelo e realiza uma pesquisa sobre personalidades catarinenses que resultará num documentário a  ser lançado ainda este ano.

Estou passando o carnaval em sua casa. Coisa que nunca pensei acontecer. Em outros tempos, já teríamos nos “matado”. Entre uma cerveja e outra, um amigo que chega outro que sai, uma música interpretada pelo violonista GG Felix, Vidal acaricia uma costela que assa na brasa “e não é de boi nelori”, previne ele, enquanto fala sobre as raças de gado mais indicadas para um legítimo churrasco gaucho e conversa sobre literatura, arte, vida.
 Pegando emprestado um comentário do amigo escritor Ewaldo Scheleder que disse “ O Vidal está insuportavelmente melhor”, inicio a inquisição perguntando:





M: - Qual foi o motivo dessa transformação?

JB: - Não sei o que ele quis dizer com isso, eu era pior? Sob que ponto de vista? Melhorei, sob que ângulo? Criei barriga? Fiquei careca? me pareceu mais uma piada do que um pensamento filosófico. O homem nasce para evoluir em todos os sentidos. Nasce bebê e torna-se adulto. Nasce totalmente ignorante e torna-se culto. Evidentemente que é uma minoria, na questão do conhecimento...claro! a maioria continua como se fossem bebês, em razão dos sistemas em que vivem, “maria vai com as outras”, vaca de presépio. Arrastam-se pela vida sem saber do que se trata. Votam em ladrões e acham que eles são muito espertos, cultuam a beleza física como se isso fosse levar a algo mais que uma trepada. Enfim, a humanidade é uma lama que só serve ao banho de alguns poucos. Então, essa evolução do homem é que está me reinventando, me refazendo, imagino. Abandonando as carcaças do percurso, me afastando do que ou quem não me acrescenta nada, e aproximando-se mais de mim mesmo, agora, não antes como você afirmou na sua apresentação. Por fim, te digo que não foi a Ilha de Santa Catarina, foi a vida mesmo. Fiz um balanço muito dolorido, por longo tempo, acho que por três anos de crítica e autocrítica, e o resultado foi mais dolorido ainda, aí você tira lições e muda, ao mudar evolui. Nem toda mudança é crescimento, óbvio. Não foi amadurecimento, não, foi constatação da necessidade de dar um salto à frente, ascender na escala, tentar pelo menos. É mais ou menos isso, em resumo, para não ser chato. Aliás, acho que a maioria dos teus leitores, a esta altura, já clicaram noutros links rs rs

M: - Pode até ser, Vidal. Mas não vou fazer apresentação acadêmica dos poetas. Não sou crítica literária e nem escrevo para adoradores de poetas mortos. Escrevo sobre poetas vivos para pessoas que querem saber o que está acontecendo agora, nesse exato momento. Por falar nisso, como está indo o seu livro Ofertório? Conte-nos.

JB:- Esse conjunto de poemas que chamo de OFERTÓRIO, é, bem provável, o início dessa mudança. Marca um período de reflexões sobre o homem e seu mundo atual. E a partir do meu olhar, tento oferecer o que me vai na alma, ou seja ofereço as experiências dos meus sentidos e de alguns sentimentos. Sendo o mais honesto possível, ofereço-me, poeticamente é claro rs rs.

M: - Do livro Ofertório, vou antecipar para os leitores, um poema visceral, sobre o qual o escritor João Batista do Lago teceu uma longa e rica análise:

OFERTÓRIO-DOR


a dor que ofereço não foi provocada
nem apascentada por mim e a solidão
veio com a chuva, c’os raios
com os anéis de saturno, na cauda do meteoro
fez poeira de lágrimas
e instalou-se nesta podridão

soube então da dor de parir
e parido fui,
da dor da fome e fome senti
da dor do sangue e o sangue correu
em minha’lma gnóstica
a dor assumiu e sobreviveu

quero então oferecer
esta dor maior que o corpo
mais que desprezo e humilhação
mais que guerras e exploração
mais que almas aleijadas
mais que humanos em farrapas degradação

ofereço a dor do amor que amei
da partida sem adeus
da saudade sem sentir
da espera inquietante
do futuro irrelevante
da ânsia divina de morrer

Poema de JB Vidal

(...) “em qual casa ele se encarna para construir o equilíbrio para poder deblaterar sua dor? Eis aqui a questão central: antes de ser “jogado no mundo”, somos “abrigados” na “casa”. Ou seja: antes de tudo – de tudo mesmo – somos “encarnados” na mundanidade das casas. Somente a “casa”, e em especial a “casa natal”, nos fornece os elementos essenciais para o processo de aprendizagem e de apreendidade do mundo. Que imagem fenomenal, caro leitor! Ao ponto de me fazer lembrar da Alegoria da Caverna, de Platão (e traçar uma analogia, aqui e agora, sobre isso tornaria este artigo muito extenso). Quem de nós, porventura, por um instante sequer, não já projetou ou projeta a “sua” casa como “campo de concentração de segurança”? Com certeza todos! Mas, qual é a “casa” dos “sujeitos” que falam nas poesias? É a casa primeira: o corpo. É no corpo que habita a poesia. É no corpo que habita o poeta. É no corpo que a poesia é encarnada. É no corpo que o poeta é encarnado.” 

Trecho da análise de João Batista do Lago, publicada originalmente no site do poeta Vidal: http://palavrastodaspalavras.wordpress.com

M: - Lá pelos idos de 2004, participei de um encontro de poesias no Uruguai. Levei comigo vários livros e poemas avulsos de escritores brasileiros para distribuir entre os poetas estrangeiros. Um deles foi um folder de poesias do JB Vidal, impresso especialmente para o evento e muito bem ilustrado pelo artista visual RETTA. Foi disputadíssimo. O poema COMA causou arrepios entre os participantes:

COMA

nasço e inauguro em mim a trajetória da morte,
início e fim, siameses do útero à campa,
como fonte, me insurjo, resisto,
consciente de sua presença, prossigo
sepultado vivo na matéria,
com a alma esgarçada na miséria
de um momento que ela mesma desconhece,
não há passado para o início não haverá futuro para o fim,
o que será dos meus pensares?
da razão? o que ficará dos sentidos?
das agonias, dos sofreres,
dos sentimentos, penso profundos,
o que será dos meus saberes?
não me falem de exemplos,
experiências, conhecimentos,
como óbolos para quem vem a seguir,
para eles há futuro, esquecer
não me venham com alegorias cenobitas,
relações de fé-imagem, palavras-reveladoras,
crenças obtusas oferecidas em sacras mansões, não!
digam apenas que estou louco,
que me debato em trevas,
que abreviei a trajetória,
que vivo morto por querer viver depois.
 Poema de JB Vidal

 M: - Vidal, me conte como foi escrito este poema?

JB:- Teria minha cara Marilda que contar minha vida, o que seria muito monótono e sem graça. Mas, para matar um pouco da curiosidade, foi escrito numa madrugada fria (curitibana) e não levou mais que 3 minutos. Não houve correções. Como nasceu ficou. Para sua composição não houve uma razão explícita.


É... Vidal é assim. Tem hora que não se consegue arrancar mais nenhuma palavra dele, exceto uma frase como essa que define sua personalidade: ”Me odeie e eu respondo. Me ame e eu me calo”.

Já meio incomodado com minha conversa, pergunta se estou com fome, se quero mais uma cerveja, se não quero dar um mergulho, se... Brinca com Lenon - seu enorme cão akita branco e simpático - que se debruça no parapeito da janela da cozinha com as patas uma sobre a outra, igual um bêbado pedindo uma pinga no balcão. Lanço um osso para o Lenon e arrisco uma pergunta final.

M:- E agora, Vidal? Que tipo de poesia essa nova fase nos reserva? Pode mostrar pelo menos uma?

JB: - Ainda está cedo. Nem sei se já existe uma nova fase e se escrevo sob o império dela, mas realmente tenho escrito muito até porque, agora, tenho todo o tempo disponível para fazê-lo. De qualquer maneira o ambiente da Ilha me entusiasma para novas incursões, como você se referiu estou na fase de pesquisa sobre personalidades catarinenses que tenham sido, realmente, fundamentais para o desenvolvimento político, econômico e cultural do estado a partir de 1960 até os dias atuais. Este livro deverá ser lançado ainda em 2010. Penso, também, editar e jogar pelas praças e feiras, no chão evidentemente, meus 5 livros de poesia, 3 de contos e crônicas e um romance que pretendo finalizar aqui depois de 4 anos escrevendo...é pouco, mas já dá para os críticos se divertirem e manterem seus salários das editoras que compõem o famigerado “mercado editorial”.


Insisto para que me mostre uma poesia nova. Não mostra. É hora de parar com essa conversa. Convida-me para conhecer a poesia imagética que salta aos olhos nos mares do sul de Florianópolis.

Depois, gentilmente manda-me alguns textos por email, dizendo que achou nossa conversa um tanto pobre. Deixo alguns desses textos do Vidal para que degustem e espero que discordem dele quanto a pobreza. Oxalá todos os poetas fossem tão ricos quanto você, Vidal.

ETERNO     

meu corpo no teu
acende a dúvida

ser ou estar

eu!? nós!?

gozo cósmico!?

prazer em deixar-me ir
onde estás ou sejas

sou inteiro em ti

estou metade



PRISIONEIRO


nas mãos
cartas
datas
tempos
épocas
coração rítmico
arritmico
desritmico

meus lábios esmagam versos.


SANTA BOEMIA


Deus!

és o mais sábio dos poetas
pois fizestes morada no cosmos
onde é sempre madrugada!




  Vidal, eu e o violonista GG Felix, nos Ingleses - Florianópolis

Obrigada pelo dedo de prosa, Vidal. Obrigada pela hospedagem,  amiga Rosangela. Obrigada pela música, GG. 

Nos vemos por aí...

NO CAMINHO COM MARILDA CONFORTIN

Entrevista concedida à Bárbara Lia

BÁRBARA: Em entrevista a Lina Zeron você contou do teu tio que declamava poesias de Olavo Bilac prá você dormir. Um ponto em comum entre nós duas. Eu cresci ouvindo meu pai falando poesia a plenos pulmões já no café da manhã. Em um tempo que vivi na casa da minha avó ela também recitava épicos e era um tanto tétrico: Vovó recita “O corvo”. Sala na penumbra. TicTac. Arrepios.
Lendo tua entrevista fiquei tocada com a conclusão tua sobre – quem é poeta - pode narrar esta descoberta outra vez?

MARILDA: Ainda bem que eu não conheci o Poe na infância, Bárbara. Tive um urubu de estimação....Pois é, eu me descobri poeta muito cedo. Antes mesmo de saber ler e escrever. Nasci na roça, em casa, de parto natural, como nasceram os meus 11 irmãos mais velhos e todos os bichinhos que nascem e crescem distraidamente no mato. Fui a décima primeira da ninhada. Quando eu tinha menos de dois anos, nasceu mais um irmão, o Claudinho. Ele tinha síndrome de Down e fomos criados juntos. Como ele não sabia falar, inventamos uma linguagem própria. Nos comunicávamos através dos sons da natureza, dos animais e das aves. Entendíamos perfeitamente a linguagem das nuvens, dos raios, dos trovões, da chuva, do silêncio, do dia e da noite. Sabíamos traduzir a letra da música que os galos cantavam, entendíamos o que nossos cachorros queriam dizer com seus latidos diferentes para cada situação, conhecíamos os bichos venenosos e não venenosos pelo cheiro e pela cor, as abelhas e passarinhos nos contavam quais as frutas que podíamos comer, as borboletas nos ensinavam as estações do ano, o caminho das flores e a direção do vento, enfim, não precisávamos de palavras nem escola. Daí um dia meu irmãozinho morreu e eu virei a caçulinha da família. Talvez por saudades do Claudinho, ou por não ter mais um bebê em casa, todos resolveram me dar colo, me mimar, me ninar. Só que eu não compreendia ninguém e ninguém percebeu o que tinha acontecido. Me tranquei num mundinho meio autista até que um dia, o tio Renato, veio nos visitar e resolveu me fazer dormir recitando aquela poesia assim: “Ora (direis) ouvir estrelas...“ É claro que em vez de dormir eu acordei e desatei a perguntar. “ Tio, você e o tal do Olavo também entendem a língua das estrelas? E a conversa dos raios com os trovões? E dos cachorros? E dos passarinhos? E das cachoeirinhas? Então vocês também são mongolóides como eu e o Claudinho?” Daí, ele me disse uma coisa que nunca mais esqueci e que me tirou do silêncio para sempre. Disse-me que eu não era doente. Que eu só era poeta, assim como ele, Olavo Bilac, Castro Alves e muitos outros anônimos que sabiam falar uma língua diferente, chamada poesia e que eu devia ir prá escola, aprender a ler e escrever para traduzir no idioma dos homens aquelas coisas que a natureza me contava. Confesso que até hoje estou tentando aprender essa maledeta língua dos homens. Prefiro a linguagem da poesia, no seu estado bruto, antes de ser transcrita para um idioma. A palavra deforma o sentimento. 
Marilda, criança, poeta em estado bruto


BÁRBARA:Você integra o Movimento Internacional Poetrix. O que diferencia Poetrix e Haicai?
MARILDA: O haicai existe há séculos. É um terceto de origem oriental, sem título, composto de 17 sílabas, distribuídas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas métricas, ou melhor, onji (sons) e tem como característica, identificar o kigo (estação do ano em que foi escrito). É como uma senha, uma fotografia de uma paisagem num tempo fugaz num lugar específico. É como se você enviasse para o leitor o endereço de onde você está, contando o que está acontecendo naquele exato momento. É lindo. É zen.
Poetrix é um terceto também. Vem de poe = poesia e trix = três. Foi batizado com esse nome por volta do no ano 2000 pelo poeta baiano Goulart Gomes. Portanto, diferente do haicai, o poetrix é brasileiríssimo e atualíssimo. Sua definição é “Terceto contemporâneo de temática livre, com título, ritmo e um máximo de trinta sílabas, possuindo figuras de linguagem, de pensamento, tropos ou teor satírico.” No poetrix, os tempos passado, presente e futuro podem ser usados sem distinção. O Poetrix é minimalista, ou seja, deve dizer o máximo com o mínimo de palavras. Como disse Goulart Gomes na apresentação do meu livro, fazer poetrix é plantar girassóis em cabeça de alfinetes.
Gosto de dizer que o Poetrix é o filho bastardo do haicai. Tudo o que o haicai originalmente não permite, o poetrix admite, incentiva e valoriza: título, metáfora, ironia, humor, estrangeirismo, intertextualidade, erotismo, crítica, interação escritor/leitor, non sense... Muita gente pensa que escreve haicai, quando na verdade escreve poetrix. O contrário também é verdadeiro. E tem muita gente que escreve tercetos que não são nem haicais nem poetrix... tudo bem, o que importa é sentir a poesia, tudo mais são regras que só servem para instigar os poetas a quebrá-las. Eu gosto muito de haicai, mas, tenho mais facilidade e prazer em escrever Poetrix.

BÁRBARA: Conte sobre sua participação em eventos internacionais de Poesia. No México, em 2.003 e no III Festival Internacional de poesia em Granada, em 2.007, na Nicarágua. Como surgiram os convites, o que isto acrescentou à sua poesia.

MARILDA: Nossa! Essa pergunta tem muitas respostas. Difícil resumir. Acho que você vai ter que cortar alguma coisa para não ficar tão extensa. Participar de festivais de poesia pelo mundo é bárbaro, Bárbara. Nesses dois que você citou, eu tive o privilégio de ir como convidada, representando o Brasil.
O convite para o México, foi uma conspiração do universo a meu favor. Eu fui receber um prêmio em Brasília, por uma crônica que ficou em primeiro lugar num concurso internacional chamado Mujeres, mariposas sin capullo e minha “performance feminista” no palco, foi assistida, sem eu saber, pela poeta e jornalista Lina Zerón, uma das organizadoras do X Festival Internacional de Mujeres Poetas en el país de las nubles (Oaxaca). Para surpresa geral, dois meses depois, recebi um convite oficial para representar as poetas brasileiras no México. Lá ficamos hospedadas em casa de famílias de origem mixteca, asteca, maia e trocamos experiências sobre nossas culturas, literatura, arte, culinária, etc. Durante 20 dias, viajamos de um estado a outro, de uma cidade a outra, recitando e falando sobre a poesia de nossos respectivos países, em escolas, universidades, teatros, museus, igreja e praças. Uma maratona. Era uma torre de Babel. Cada uma das 70 poetas falando e recitando em seu próprio idioma, para que a população sentisse a musicalidade, o ritmo e a alma poética do mundo. O encerramento foi no magnífico Palácio de Bellas Artes, todo decorado com pinturas de Diego Riveira e Orozco entre outros imortais. Um luxo. De curioso, no México aprendi a comer gafanhoto e gusano (aquele vermezinho que colocam na tequila). Beber tequila, foi conseqüência de comer gusanos... rs.
Depois disso, caí numa teia virtual de poetas que promovem e participam de Encontros e Festivais Internacionais de Poesia. Choviam convites. 
Para o Festival de Granada, fomos convidados Thiago de Melo e eu. Thiago, é um ícone, o poeta brasileiro mais lido por lá, amigo pessoal e tradutor de Ernesto Cardenal.  
Na Nicarágua, o que mais me impressionou além dos inúmeros vulcões ativos e inativos, foi o carnaval poético pelas ruas de Granada. A cidade literalmente pára para ouvir poesia. Durante o Festival, em cada esquina, um poeta sobe no “poeta móvel”, apresenta seu país e recita poesias. E depois, se mistura com as pessoas na rua e dá-lhe música, dança, rum flor de caña de manhã até a madrugada. 
Beber um vinho com o poeta e monge Ernesto Cardenal, ouvir seu poema Oración por Marilyn Monroe, a história dos movimentos sandinistas pela paz e sua participação na revolução armada contra a ditadura de Somoza, é um capítulo a parte na minha vida. Impagável. 

Eu, bebendo vinho com Padre Ernesto Cardenal

Os convites para esses festivais funcionam assim: Um poeta de algum país te indica, outros de outros países endossam, a organização cultural do país promotor sai captando recursos na iniciativa privada para bancar as despesas de viagem dos poetas convidados, a população se inscreve para hospedar os poetas estrangeiros que não tem grana para pagar hospedagem e alimentação e tudo isso em troca de recitais, palestras e oficinas gratuitas abertas ao público. É um intercâmbio cultural. Pena que no Brasil, o governo, ongs, iniciativa privada e os próprios poetas e artistas não se unam para promover festivais desta natrureza.

"O que isto acrescentou à sua poesia?” Ai cazzilda, Bárbara! Acrescenta muito! Esses festivais, me confirmam que a poesia é uma linguagem de alcance universal, sem fronteira alguma. E que quanto mais simples (simples, e não simplista), melhor é a poesia. Melhor para traduzir, melhor para recitar, as pessoas se identificam com maior facilidade. E que quanto menos “estrela” você for, mais estrelas vão aparecer para iluminar teus caminhos. 

BÁRBARA: Meu amigo, o poeta Márcio Claudino, realizou um estudo sobre a poesia curitibana atual e a separou em duas tendências: “Poesia de Expressão Vital” e “Poesia de Composição Onírica” . Ele me colocou ao lado dos poetas oníricos, mas, um belo dia me confessou que algumas poesias minhas tem este lado visceral. Expressão crua da vida. Como leitora, qual o poeta que é sua paixão maior? Ou poetas, ou escritores? Os líricos te seduzem? Eu sou lírica e amo ler os escritores viscerais - Fante, Miller, entre outros...

MARILDA: Acho que todo o poeta é um sonhador. Sendo assim, acho que toda a poesia é onírica no sentido literal da palavra. Mas nem todo o sonho é maravilhoso. Eu tenho pesadelos terríveis, principalmente acordada... rss. Concordo com o Márcio. Você tem um lado visceral, principalmente quando o poema tende para o erótico. E tua presença me passa uma imagem muito realista, marcante, contrastante com as metáforas oníricas da tua poesia. Mas, eu AMO teus contrastes...
Pois é, tenho minhas recaídas, graças a Deus, mas os líricos não me seduzem muito, não. Meu lirismo ficou lá na infância, enterrado com meu irmão e com Bilac. Espero ressuscitá-lo algum dia, mas, como diz nosso amigo Paulo Matos, do Epopéia: “o duro da vida, é que ela nos endurece”. Não freqüentei nem me enquadrei em nenhuma escola literária. Fui pro pau! Peleio com a vida e com a palavra meio no grito, na defensiva, no instinto, sem embasamento teórico, na hora e no tom que elas me provocaram. É um toma-lá-dá-cá. Sei que, por conta da minha figura minguada e do carma dos olhos azuis, os curitibanos esperam que eu declame poemas brandos, à la mestra Helena Kolody, mas, para decepção dessa cidade, eu me identifico mais com as malditas pauladas do Leminski e do Thadeu.
Qual foi a pergunta mesmo? Ah, os poetas que gosto... vixi, pra ser po(ética)mente correta eu teria que citar os mortos prá não ferir os vivos, né? Pulo essa, Bárbara.

BÁRBARA: A peça “ Portas Entreabertas” com Danilo Avelleda e Adriana Sottomaior, apresentou textos de Helena Sut e Danilo Avelleda e poemas teus. Como foi esta experiência – escrever uma peça teatral? Planos futuros para os palcos?
MARILDA: Foi uma experiência meio doida. Eu tinha que escrever os poemas que seriam interpretados pelo Danilo. Tive que incorporar o personagem Dionísio, um homem, um poeta passional. Ser um Dionísio dividido entre a paixão por Pilar e Alma. E tive que me entranhar no útero introvertido da Helena Sut para entender o enredo dramático, intimista e cheio de palavras sangrentas da peça. A Helena é phoda. Ela já tinha experiência em texto teatral. Eu nunca tinha escrito para teatro e nem composto poesia como se eu fosse um homem. Por mais que se diga que não há diferença entre a poesia feminina e masculina, a verdade é que nossa escrita tem uma boa carga de experiências de vida, de cultura sexista, valores morais e sociais diferentes. Não assisti nenhum ensaio. Na estréia da peça, me assustei ao ouvir alguns textos meus na voz do Danilo. Fiquei mais a vontade quando falados pela Pilar e Alma... Depois acostumei e quase não percebia mais a diferença entre o que eu escrevi e o que a Helena escreveu. Danilo, Adriana e Raquel são atores porretas. A direção do Rogério Bozza foi perfeita. Mas, vamos ser honestos: Eles foram corajosos, né? Uma peça dramática, poética, intimista, competindo com comédias em todos os teatros de Curitiba...Só por amor a arte, mesmo.
Sim, pretendo escrever mais para o teatro, mas preciso liberar tempo para pesquisar, fazer um curso de atriz, aprender as manhas teatrais... Helena e eu temos algumas idéias de peça teatral para o futuro... quem viver, verá. 

Bárbara Lia,  professora de história, escritora com vários livros publicados. 
Site:    http://chaparaasborboletas.blogspot.com

Entrevista concedida à Lina Zeron

Entrevista concedida à colunista Lina Zeron
Jornal El Financiero - México

1.- Marilda es una mujer muy sencilla y simpática pero de carácter fuerte, así que al pedirle me diera una pequeña nota biográfica, me respondió: “Soy una mujer de 46 años, crecí  en Chapecó - Santa Catarina.  Resido desde los 20 años en Curitiba, capital del Estado del Paraná, sur del Brasil. Soy escritora, analista de sistemas, madre de dos hijos y feliz, creo que no necesites más datos sobre mi” 

y tal como su carácter es, comenzó a charlar de su ninez:


“Yo era muy chica, no sabía leer, ni escribir. Éramos 12 hermanos. Hasta los 6 años yo sólo hablaba con mi hermanito mas joven, y que tenia el síndrome de Down. Sólo ese hermano me oía, entendía, y  compartía conmigo la magia del sonido de las palabras que inventábamos y que rimaban con el canto de los gallos, con el ladrido del perro, con el barullo del viento. Nosotros nos entendíamos. Cuándo el viento hacía barullo, él levantaba su dedito indicador y nosotros mirábamos en la misma dirección, para ver cómo reaccionaba la naturaleza y escuchar lo que ella decía. Nos quedábamos atentos para oír el silencio que, tras el trueno venía y el inmediato resucitar de los ruidos. Nos gustaban las tempestades y dormir con la ventana abierta, mirando al cielo. Después de su muerte, me quedé algún tiempo callada. Hasta que un día mi tío, Renato, me declamó un poema para que yo durmiese. Tenía ritmo y no era música. El tal de Olavo Bilac también oía estrellas y mi tío comprendía. ¿Entonces Olavo Bilac[1] y mi tío eran mongoles? ¡No! Ellos eran poetas. ¿Entonces mi hermanito y yo también éramos poetas?¡Si!.
2. 
Sobre mi poesía y las posturas sexistas que me preguntas te diré que un día decidí olvidar la opinión de todos y responder a mi gusto. Me despojé de las ideas preconcebidas y entré en otra dimensión. En la dimensión de la poesía en estado bruto. Allá dónde ella no necesita ser escrita ni hablada. Sólo sentida. Allá no encontré ninguna diferencia entre la poesía del hombre y de la mujer. Me quedé feliz. Pero volviendo a la realidad, aquí, en el papel, en la palabra, o en cualquiera forma en que la poesía se materialice, hombres y mujeres se expresan, aunque de forma diferente. Raros son los poetas que escriben sobre cualquier tema, exentos de la carga cultural que acompaña la educación diferenciada entre hombres y mujeres. Pocos poetas hombres escriben sobre el cotidiano, por ejemplo. Es un tema que no exige conocimiento especializado y por eso les parece que les disminuyen su capacidad intelectual. Los hombres tienen por obligación siempre afirmar sus conocimientos, su dominio, su inteligencia, su masculinidad, su superioridad. La poesía del hombre es una poesía exteriorizada, para criticarla, analizarla, compararla. Es una poesía con pretenda utilidad. Tiene que comprobar alguna cosa para alguien o para un determinado grupo o segmento.  Normalmente viene cargada de argumentaciones y es conclusiva. La de la mujer, por otro lado, es más intimista y cuestiona mucho más. Deja que el lector saque sus conclusiones. Es después de la lectura de un poema típicamente masculino que yo, como lectora, me quedo con la obligación de concordar, o no concordar con el poeta.
Es al término de una poesía  con lenguaje femenino, yo me quedo con la sensación de que me haya gustado o no la poesía. Esta diferencia, no es buena ni mala. Es a penas una constatación personal. Cuándo se escribe sobre sentimientos, las mujeres llevan ventaja: pueden exponer con claridad los sentimientos humanos más íntimos, sin grandes penalidades. A final, son las mujeres (ese juicio es gritaste). Son consideradas emocionalmente débiles, incultas y románticas . A las mujeres se las permite la contradicción (al final, ¿Quién entiende las mujeres?, ¿No es así?) Y es la escrita en la primera persona del singular, en el presente del indicativo: yo lloro, yo soy traída, usada. Yo tengo miedo de la muerte, de quedarme sola, de la vejez, de la incompetencia, del paro, del futuro. Yo tengo odio de ese hombre, yo amo esa amiga, yo estoy insegura, ansiosa, confusa. Los hombres son severamente criticados si entran en contradicciones o admiten ser inseguros. Ni las propias mujeres les perdonan. Para exentarse, generalmente usan la tercera persona, cuándo expresan sentimientos y los expresan en el pasado o cómo preocupación del futuro.
Entonces, creo que es eso. La sensibilidad de los hombres y de las mujeres es igual, pero al exteriorizar, la poesía sufre mutaciones y mutilaciones de los juicios.
3.- ¿Qué dificultades hay en tu país para publicar poesía...para que te editen?
Resp.- Las dificultades para publicar poesía empieza por la escasez de lectores. Por la falta de hábito de la lectura.¿Quién lee poesía? Poetas (escritores o no), críticos, profesores y estudiantes. Poetas y críticos son un grupo pequeño, normalmente no compran: el propio escritor se los regala. Profesores y estudiantes leen, no por el gusto, sino por fuerza de lectura de libros obligatorios, de autores ya fallecidos y algunos pocos autores contemporáneos, bajo la obligación de cumplir el contenido curricular. Así que cumplen ese objetivo, lo máximo que compran son libros técnicos, para demostrar que se actualizan profesionalmente. Para muchos profesionales, pillarlos en el garito, leyendo poesía es un señal de innadurez. Entonces ¿Por qué los editores investirán en nuevos poetas si la poesía no se vende ni da lucro? . Hay otro  gran publico consumidor de libros. Es aquél que busca en la lectura una tabla de salvación para sus desgracias. Y así, los escaparates brasileños están llenos de libros de auto ayuda y de recetas milagrosas que prometen mágicamente elevar la auto estima y enseñar a vencer los problemas de la vida. La poesía no es la lectura preferida de ese publico pero es la gran perjudicada, visto que mucha gente confunde ese tipo de escrita, con poesía.
Entonces quienes quiera escribir poesía por el placer de la poesía, sin concurrir y ganar premios literarios, o sin direccionar para estudiantes de bachillerato, o aún sin apelar con sensacionalismo, tiene que arcar con el coste financiero, donar sus libros y conformarse con el lugar más escondido en los escaparates de las librerías.

4. - ¿Ha sido difícil para ti asumirte como poetisa? 
esp.-  Íntimamente no. Siempre me he sentido una poetisa. Pero públicamente si. Fue y continúa siendo muy difícil. Disfrazo mi poesía con otro ropaje (crónicas, novelas cortas, música) y de una cierta forma, me siento mas confortable y protegida. Tal vez porque no conviva con escritores, por que no sea esa mi profesión, mi circulo social. Soy una extraña en el nido. Hace unos dos años, empecé a mostrarla, tímidamente, pero tengo plena conciencia que aún no me quite todas las mascaras. Leer y escribir poesía todavía es, para mi como la masturbación: Un placer solitario. Un pecado que tiene el perdón y la complicidad divina.

Cosas de Mujer

Tu dijiste que venías.
Fui a la tienda, a comprar vino,
no trabajé, hice dulces,
buñuelos de lluvia,
pan, el pelo, uñas...
Tu dijiste que venías.
Encendí incienso, dí brillo al suelo,
cambié las sábanas de la cama,
toallas, jabones,
abrí las ventanas...
Tu dijiste que venías.
Vestí la ropa dominguera,
pantuflas nuevas, medias finas,
espíritu navideño,
día de cumpleaños,
final Brasil vs Argentina...
Tu dijiste que venías.
Yo dormí en la sala, descubierta.
Esperándote.
Yo dormí la vida toda,
encubierta,
esperándote


Lina Zeron: Mexicana, 1959. Estudió Relaciones Internacionales en la ENEP Acatlán, UNAM.  Su poesía ha sido traducida al inglés, francés, alemán, italiano, catalán, portugués, servio, ruso, esloveno, italiano, árabe, rumano, holandés y mongol. Sitio: http://www.linazeron.com/