Sou uma moda antiga - Tonicato Miranda



para a mulher antiga e àquela passando ali

John Coltrane já se achou moda antiga
também me incluo no mesmo navegar
sou barco solitário longe da vista, vou no ar
terra distante, mapa antigo, amor sem liga

Nada sou da moda “fashion”, muito embora
aprecie as sandálias novas contornando
pés de moças e até de charmosa senhora
mas me deixem estar no vinho, a um canto

Ou podem deixar-me grudado na moldura
quadro desses antigos, de época barroca
eu ali, junto à garrafa numa expressão louca
realçando mais o Ó esgarçado em sua boca

A moda não é para mim, mas é como se fosse
ela apenas existe na liberdade do meu olhar
bom de te ver, te degustar como caju doce
na beira do mar, em qualquer beira a te amar

Ah, John disto sabia e no seu sax sexy de prata
servia seus sons em bandejas também de prata
dentro delas pernas e poucos panos em realces
gazelas caminhando para o prazer dos alces


Mas sou mesmo uma moda das mais antigas
ainda trago flores ao amor com bilhete perfumado
me encanto com as saias soltas singelas, calado
digo sim, mil vezes sim, às meias e às cintas ligas

O esconder mais do que o mostrar, John sabia
é o que espeta com agulhas finas nosso desejo
não importa qualquer nome serve, todas são Maria
todas merecem as notas do sax e de mim um beijo
 
Curitiba, 30/Jan/2011.
Tonicato Miranda