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Poesia Oito flores e uma canção desesperada

Neste aniversário, ganhei um buque com 8 flores

E UMA CANÇÃO DESESPERADA
Tonicato Miranda


Você,
rosa vermelha
e um punhal brilhante sobre a mesa
do corredor até a mim vem
uma canção desesperada
Você,
um lírio branco
e vinte lírios brancos sobre a mesa
que nada rivalizam ou contêm
dos acordes da canção desesperada
Você,
meu amor perfeito
a caneta e a carta sobre a mesa
tudo a escrever ao meu bem
dentro da canção desesperada
Você,
minha violeta quase preta
há na tarde reflexos sobre a mesa
tudo que o sol vai levar para além
da tarde, junto à canção desesperada
Você,
cacho de acácia
desfolhando-se sobre a mesa
meus dedos tristes, sem
dedilhar pianos na canção desesperada
Você,
um ipê amarelo
pintando o papel sobre a mesa
mesmo vindo a noite qual um trem
embarque-me na canção desesperada
Você,
rosa branca
derramada sobre a mesa
derrame perfume em mim, mais de cem
para perdurar-me nesta canção desesperada
Você,
manacá da serra
decorando meu sangue sobre a mesa
anhagatirão é teu nome também
o branco e a violeta juntos na canção desesperada
obrigada, poeta.

Poesia Por volta do meio dia

Por volta do meio dia

Tonicato Miranda

Dois do ano, Janeiro é o mês
Emprestando de Thelonious Monk
"por volta da meia noite" quase fria
Ouço Miles Davis
por volta do meio dia.
Tudo está tão calmo
Ninguém distante virá à mesa
Não há preces, nenhum salmo
Vamos calados comer
da salada à sobremesa
Vamos calados beber
o desjejum de quem acorda de tarde
e diariamente morre antes de dormir tarde.
A vida continua áspera
E em corte brusco
vejo na janela um arbusto
A luz se abre em saudades
uma metade minha foi
em busca do rosto dela
Eu, velho etrusco, tosco
idiota rouco, quase boi
pasto a procura de rostos
no capinzal do acaso
Na terra do talvez
vou franzindo a própria tez
Testemunhando a solidão
por volta do meio dia.
Aqui, às voltas do almoço
como meu soluço solitário
Talvez troque a comida
por baforadas de um cigarro
Para flutuar lembranças
há tempo presas no armário
Mas não, comerei a comida fia
por volta do meio dia.
Curitiba, 2/1/2013.

tm

A pedrada do amor, por Tonicato Miranda

A pedrada do amor
para a mulher manada

que tal um passeio
neste final de tarde
pode vir, o Sol já não arde
eu sei, sua pele é branca
a minha segue morena
que tal um sorvete
na lanchonete da esquina
experimenta o de pistache
deixa eu pago quebrei a banca
a sorte não é mais pequena
que tal um beijo doce depois
pode melar o rosto ou parte
dele pode ser no canto da boca
tenho no bolso um lenço de seda
mas prefiro guardar a umidade
que tal sorrir estas pestanas
um banco para sentar a la carte
passos estranhos a desfilar e a louca
passando ali sem roupa, a bêbada
pernas a remexer com e sem alarde
que tal depois um silêncio
sua mão sobre a minha com arte
a brisa tremendo sua voz rouca
meus ais prisioneiros como pedra
doida por se atirar nesta tarde
Tonicato Miranda

Sei-os

... ainda no espírito da poesia erótica, Tonicato enviou-me alguns poemas para publicar no Blog. Escolhi este porque combina com a pintura de  Maria Madalena, de Tiziano que acho muito bonita.
Madalena - Tiziano 1530-1535


SEI-OS

Tonicato Miranda

Existem seios iguais a botões
novos brotos desabrochando
pequenas colinas em elevação
Existem seios que são melões
pesados, inchados, apetitosos
jamais se contêm nos soutiens
Existem seios quase decoração
tamanho certo, forma perfeita
a eles bastam simples combinação
Existem seios muito murchos
cansados de bocas e choros
inibem garruchas, esvaziam cartuchos
Existem seios que são abacates
verdes e rígidos, muito arrebitados
espetam o tesão de pobres mascates
Existem seios qual doces cerejas
pequenos como pingos de amor
cantado em bares e no calor das cervejas


Sacaneando e.e. cummings & e_tonicato


Tenho um problema pessoal com o cummings. Ele sempre me aparece na hora errada. Na primeira vez que cruzei com ele, eu era muito jovem e não estava preparada para lê-lo. Na segunda, eu estava apaixonada por um poeta que se apaixonou pelo cummings que roubou o interesse dele por mim. Na terceira eu não estava apaixonada por ninguém e essa maravilhosa poesia (abaixo) só me deixou mais triste. Ano passado, tropecei nele outra vez. É perseguição! Foi na Bienal de Salvador. Só por sacanagem resolvi presenteá-lo ao Tonicato, um amigo obcecado pela pontuação perfeita, pela frase hermética e pela escrita impecável. Pensei que fosse odiá-lo. Qual o quê! Desembestou a eecummingsar. Chega! Vão tomá no cummings :)
Vou sacanear com vocês dois.
 

O poema do e.e cummings
(Tradução de Augusto de Campos)

eu gosto do meu corpo quando está com o seu
corpo. É uma coisa tão nova e viva.
Melhores músculos, nervos mais.
eu gosto do seu corpo e do que ele faz,
eu gosto dos seus comos. de tatear as vért
ebras do seu corpo,a sua treme
-lisa-firmez e que eu quero
mais e mais e mais
beijar, gosto de beijar issoeaquilo de você,
gosto de,lentamente golpeando o, choque
do seu velo elétrico,e o que-quer-que freme
sobre a carne bipartida...E olhos migalhas
de amor grandes e acho que gosto de ver sob mim
você vibrar tão viva e nova assim


O poema do Tonicato em homenagem ao cummings
(trecho do poema de Tonicato Miranda)


pensando no seu corpo
com o olhar pousado em suas coxas brancas
talvez coaxasse por elas
e eles assim, tão desgarrados joelhos
confesso-me diante de suas pernas, sonho
...delirei com o vão do seus seios
tão abrigados em castos vestidos
será eles sabem do meu peito, desta ânsia
de apertos e contatos de músculos?


Meu (poema) sacaneando os dois

ando pens
     ando no seu corpo.com
o olhar pousa
do em suas
co X as

brancas tal
vez

coaxo
         por elas e eles
assim tão des
                garrados

de joelhos confesso:
        
ante de suas
pernas-sonho
... delirei

como vão
seus seios tÃO?

a
brigados em
castos

vestidos será sabem?

do meu
peito minha
         ânsia
a
pertos e con
tatos

de

mús
cu
luz
(marilda confortin)

Passos no final da tarde - de Tonicato Miranda

de Tonicato Miranda 
às mulheres que amo e sempre amarei

Quando vou andando
no final da tarde
caminho sempre solto
totalmente envolto
pelo calor se esvaindo
de um Sol que já não arde
Quando vou andando
no final da tarde
vou sempre pensando
nela e nos pássaros
a seguir meus passos
indo por pedras sem alarde
Quando vou andando
no final da tarde
de um dia bonito assim
que não queria ver o fim
penso como a vida é breve
e quão bela esta parte
Quando vou andando
no final da tarde
sinto no peito uma alegria
sou esta luz a gritar o dia
retardando para não deixar
a noite vir e roubar esta arte
Quando vou andando
no final da tarde
o coração parece todo pulsa
esta bela emoção avulsa
tenho saudade de ainda há pouco
sou um marciano sem Marte
Quando vou andando
no final da tarde
vou com meu músico mais dileto
tocando a música muito perto
meus ouvidos ouvem mais
músicas vindas desta tarde
Quando vou andando
no final desta tarde
vou amando como jamais amei
este amor de plebeu ou de rei
parece vai explodir-me no peito
de tanto que padece em amar-te
Quando vou andando
no final da tarde...
Curitiba, 29/11/2011
Tonicato Miranda

Tristeza na bandeja
- de Tonicato Miranda


 Minhas lágrimas para você são assim:
duas gotas doces, três gotas rosa-alface
lenço perfumado, cinco sorrisos distraídos
não há tristeza no meu olhar, nem face
Na prateleira da geladeira tem uma goiaba
guaraná e queijo, o vento gelado de ontem
muitos vazios e a lembrança doce da amada
o seu pudim pedindo a boca: vem aqui, vem
Minha tristeza pensando nela é jazz puro
dedos de pianista martelando com vigor
música sem ter tempo para apagar o dia
ou avançar noites, pois é tarde, é amor
Apenas quando a canção acalma e deita
dispondo-se sobre a mesa, como bandeja
lá onde muitas são frutas e notas musicais
uma última lágrima cai, minha voz gagueja
Vou sair desta sala devagar como quem
nela não entrou, nada provou, ou deixou
vou partir com o sax e o piano – piano, piano
deixando só quem nunca me amou, ou, ou,ou...
Curitiba, 4/9/2011.
TM

Retrato na parede - de Tonicato Miranda


de Toncao Miranda, para Tonicato Miranda
poderia ir à selva; à relva; à trégua; a léguas de vidas
mar adentro, céu afora, aos píncaros, ao subterrâneo
fugindo poderia lampiar o caminho com despedidas
mas pra quê se a saudade dói, se há um tango sincero
pendurado no ouvido, deixando-me louco, instantâneo
vou ficando por aqui, reforçando o solitário e triste elo
lambendo qual cachorro guapeca as próprias feridas
vou ficando por aqui, a cara mais face do que crânio
no retrato da parede, sou narciso re-inventando o belo

Nada há além da arte e do belo – ampliando conceitos

A arte “underground”, desde Andy Warhol, artista de expressão mediana, mas superestimado por alguns grupos culturais, que produziu alguns ícones tidos pela mídia como de forte impacto social. A arte indígena, massacrada em sua inocência pela estética do mercado de consumo ocidentalista. O próprio artesanato utilitarista ou não. Todos foram sendo dizimados pelos ditames das culturas dos vencedores. No entanto, resgates foram realizados por antropólogos, por indigenistas, por museólogos; resultando, então, na montagem de acervos especiais, quando não em sala ou edificação exclusivas para este tipo de arte de um povo ou de parte dele.

Que jeito ... - de Tonicato Miranda


A tarde armou o vento
O vento misturou nuvens
O céu se encheu de flocos em cinzas
Um pardal na ponta de um banco
deu de ombros
Olhei para ele e concordei
Perguntou-me o companheiro:
Será que chove?
Não sei, respondi sorrindo
Ele então me disse: até logo, vou voar!
E eu repliquei: vou me molhar!
São Carlos, numa praça, Abril/2011
Tonicato Miranda

FINAL DE TARDE - de Tonicato Miranda

Final de tarde

para Helena Kolody

felizes os que morrem com a tarde
finando seu ciclo de claridade e luz
felizes daqueles diante de um copo
a mirar a própria lágrima derretida

felizes os seres estes que mugem
vejo o azul cobalto na flor do maracujá
vejo um prego coberto de ferrugem
e belezas na luz da tarde a soçobrar

felizes os que sabem um sopro soprar
beijando no lábio a musa tão querida
ah esta tarde derramando-se na noite
leva-me contigo onde outras tardes há

feliz aquele que perdoa sua tristeza
nada mais vejo agora no céu a chorar
a folha da palmeira antes pura beleza
foi a casa sonora de um pio de sabiá

não há mais felicidade morando aqui
saudade da janela e de um pé de piqui
arrastando folhas a murmurar: estou aqui
minha cara boba a dizer: eu vi o piqui cantar

o cinza já derreteu todas belezas do ar
e a cor é somente luz, já disse Helena
sinto a lavanda dela a pairar no ar, a pairar
e sua alegria dos dentes à mais longa melena

feliz você que já partiu, não viu esta tarde
onde me ponho a chorar como chaleira velha
saiba, mesmo cinza a tarde é linda como árvore
qual aquela no terreno ao lado a me namorar

Curitiba, 23/2/2011.
TM
Tonicato Miranda

Sou uma moda antiga - Tonicato Miranda



para a mulher antiga e àquela passando ali

John Coltrane já se achou moda antiga
também me incluo no mesmo navegar
sou barco solitário longe da vista, vou no ar
terra distante, mapa antigo, amor sem liga

Nada sou da moda “fashion”, muito embora
aprecie as sandálias novas contornando
pés de moças e até de charmosa senhora
mas me deixem estar no vinho, a um canto

Ou podem deixar-me grudado na moldura
quadro desses antigos, de época barroca
eu ali, junto à garrafa numa expressão louca
realçando mais o Ó esgarçado em sua boca

A moda não é para mim, mas é como se fosse
ela apenas existe na liberdade do meu olhar
bom de te ver, te degustar como caju doce
na beira do mar, em qualquer beira a te amar

Ah, John disto sabia e no seu sax sexy de prata
servia seus sons em bandejas também de prata
dentro delas pernas e poucos panos em realces
gazelas caminhando para o prazer dos alces


Mas sou mesmo uma moda das mais antigas
ainda trago flores ao amor com bilhete perfumado
me encanto com as saias soltas singelas, calado
digo sim, mil vezes sim, às meias e às cintas ligas

O esconder mais do que o mostrar, John sabia
é o que espeta com agulhas finas nosso desejo
não importa qualquer nome serve, todas são Maria
todas merecem as notas do sax e de mim um beijo
 
Curitiba, 30/Jan/2011.
Tonicato Miranda 

Paca, tatu, confia no pão - de Tonicato Miranda




Paca, tatu, confia no pão
Tonicato Miranda
De repente observo, pastor, padre
político, polícia, anote, marque:
todos começam com a letra “p”.
Não gosto de nenhum deles,
mas gosto de pintores, de pedreiros,
de todos pães, também de padeiros.
Não gosto de pepino, de pé de porco,
de paleta, de pica de porco ou de zebu,
mas gosto de picanha, como com gosto.
Pamonha? Gosto, mas não de palhaços,
de palhaçada, da paliçada da indiarada,
nem da palmitada no chão, arrasada.
Gosto de porco, peru – de caralho não.
Gosto de panqueca, de pastel, de pizza,
mas a dos políticos, passo – ela cisca;
se pudesse passava todos na bala,
pendurava-os em parede de pregos
ou passava no fogo de parabeluns.
Gosto de Portugal, das portuguesas,
das províncias, do Porto, de Portimão,
não gosto da tv deles e sua programação.
Gosto do Pluto, o cachorro do Pateta,
do Peninha, mas não gosto, entorno o balde
dos putinhos dos sobrinhos do Pato Donald.
Não gosto do Paraíso, mas gosto da Penha,
da Paulista e de putas regiões como a Mooca.
Paulicéa, preciso descobrir mais uma loca.
Gosto do sulfite, papel manteiga na rosca,
pergaminhos e de projetos, quem não gosta?
Mas não de papel higiênico com única folha.
Gosto de parque, de praia, a pele nua da boa
e da tua, mas não posa de potranca, embora
goste da tua anca e da popa, minha patroa.
Deriva pra lá, Pacífico adentro, partindo
daqui de Paranaguá, rumo ao mar do sul
para lá da Lagoa dos Patos, leva um patuá
sorte terá na travessia do “P” ao céu azul.
Curitiba, Jan/2011.
TM

Após o baile - Tonicato Miranda

Após o baile, dormindo como a Tula Cubana
Tonicato Miranda 
(ler o poema ouvindo a música "El cuarto de Tula"


pronto
agora não sou mais
o homem triste

pronto
agora já tenho os sais
e os pés sem despiste

nem te conto
já posso bailar alegrias
rodopiar meus versos

diz ela: tonto
bêbado em plateia de gias
seus tristes em mim imersos

o ronco
do tambor e do amor
preso à saia da prenda

dizem: pronto
já podes provar todo sabor
fazer o real virar uma lenda

diz ela, te conto:
rodopias pelo salão da vida
mas não esqueças: ela é breve

pronto
agora peguei gosto pela lida
e me dizes não gasta a verve

tonto
como a Tula cubana pós folguedos
vai morrer dormindo após dançar

pronto
oito ou oitenta, a vida e seus brinquedos
morrerás feliz vendo minha saia a bailar

a bailar, a bailar, a bailar
pronto, sou mesmo um tonto
neste poema conto
sou o tonto bailarino a bailar
mesmo depois de morto o tonto
segue aos céus a bailar
a bailar, a bailar, a bailar.
Tonicato Miranda

Então, pedi para o Tonicato escrever um poema alegre. Um desafio, confesso. Ele é especialista em  ser triste. Mas, ele encontrou inspiração na música cubana "El cuarto de Tula",   uma das mais populares músicas do Buena Vista Social Club. 
Ficou muito bom esse poema, Tonicato. De tonto, você não tem nada. 

Poema pós Natal - de Tonicato Miranda


para Hamilton Alves
algumas reflexões pairam quais nuvens
sobre a cabeça, revoando meus marimbondos
estará a morte próxima, sentada na varanda
alguns dizem ser cedo quando ela vem nua
ainda não viraram estátua de largos lombos
não se eternizaram como nome de rua
a mim sobra a vontade de mudar de país
arrancar com as unhas minha própria raiz
carregando meu caule, galhos e folhas
para florescer em outro lugar muito longe
onde os homens sejam menos crueis
onde nada aumente seus soldos e papeis
lá onde o vôo do pássaro é apenas isto
um vôo de pássaro, nem alegre ou triste
apenas a interjeição do olhar e um: Viste?
a pergunta quase sussurro à companheira
ela, sentada ao lado, muda e prisioneira
dos mesmos jogos de emoções e espera
suave tarde de cobra coral, ali nada é a vera
até os marimbondos voam devagar e lentos
tudo se solta ao ar e há dois ventos
pairando as reflexões e as nuvens
Curitiba, 26/12/2010.
TM