O vampiro de Curitiba


Dizem que um vampiro só entra na casa da gente se for convidado.
Mentira! 

O Dalton Trevisan nunca aceitou convites para almoçar ou jantar,
mas, conhece todos os cômodos da nossa casa.
Disfarça-se de traça e fica lá na cabeceira da cama, no meio dos outros livros.
Quando dormimos, escapa sorrateiro.
Cheira nossos lençóis, vê com quem dormimos, fotografa nossos pesadelos, abre gavetas, invade o quarto da empregada, revira o lixo recolhendo provas de nossos crimes. Espia o banheiro, compara e conta os fios de cabelo perdidos na pia, cheira a escova de dente, abre a geladeira, lê nossa correspondência e senta-se confortavelmente na poltrona da sala para ler os classificados no jornal do dia anterior.
Tempos depois, lemos um conto que nos parece muito familiar...
É... o Dalton, entra na vida de todo mundo, mas não deixa ninguém entrar na vida dele. Vampiro!

Dizem que hoje (14/06) ele faz aniversário. 85 anos. Será? Se não fosse por uns parentes dele que conheço, diria que o vampiro nem existe. 

Por via das dúvidas, vou deixar um pedaço de bolo na estante.
  Feliz aniversário, Dalton!

GRITO EMITO
- Tonicato Miranda



Um dia,
pensei e resolvi ser as mãos do Edgar Rice Bourroghs,
criar Tarzãs, 
recriar selvas e o tônus muscular do herói.
Não deu. 
Não tinha o dom. 
Não bastava apenas a paixão e a vontade!
Desisti ao primeio convite para brincar de pique.
Adorável leviandade.


Outro dia,
imaginei viver a vida e obra de Gauguin,
largar tudo que ainda não sabia que seria
ou que viria ter.
Não podia. 
Não havia mais ilhas vazias, 
outra Mahana como aquela.
Restou o consolo de conceber o nome numa escultura viva.
Uma criança viva e bela.


Mais tarde,
deu vontade de construir igual Mies Van der Rohe,
edifícios espetando nuvens iguais cristais de rocha entre formigas.
Não iria. 
Não poderia abandonar a luta por idéias horizontais.
Ficou o legado do dia a dia no trabalho de repartições funcionais.


Por último,
o desejo de te adornar em palavras, 
como Hemingway,
te esquecendo entre touradas, 
pescarias e cabarés da vida.
Não foi bem assim. 
Não pude espetá-la em chifres, anzóis e palitos.
Acabei sendo o simples mortal, ingresso de geral.
Do gol, apenas o grito!

Tonicato Miranda - Varandaes/1984.