A imagem, é um quadrinho que minha filha pintou e pendurou na minha varanda.
Pratiquem, amigos!
IL DOLCE FAR NIENTE
(Marilda Confortin)
O “dolce far niente” é uma arte. Exige disciplina,
concentração. Há coisinhas a fazer por toda a parte. É difícil resistir a
tentação.
Imagine perder o momento exato do beija-flor pousando no hibisco,
só porque você foi lavar um prato ou varrer meia dúzia de ciscos.
Cultivar a prória cebola, salsa, alho, flores, verduras, manjericão...pensa
que não dá trabalho? Olhe os calos nas minhas mãos!
Pastorear nuvens que pastam sobre o mar não é pra qualquer
Pessoa. Elas dispersam, num piscar. Basta um ventinho à toa.
Não é fácil liberar o pensamento para que voe livre como
gaivota. Nem resgatá-lo do mar turbulento quando ele foje explorando nova
rota.
Diminuir o peso dos fardos, aumentar a leveza da mente
Adoçar os momentos amargos, é a dieta do dolce far niente.
Encontrar significado nas insignificancias, como Manuel de
Barros sempre fez. Resgatar a curiosidade da infância e o olhar de supresa da
primeira vez.
Contar as estrelas noite afora, ouvir o que o silêncio tem a
dizer, descobrir com quem a lua namora e onde se esconde ao amanhecer.
Ver a aurora deslizando pelo muro, invadindo a casa, sorrateiramente,
varrendo todos os cantos escuros, como uma faxineira competente.
Fazer um jantar elaborado num dia qualquer, à esmo. Não para
agradar o namorado, mas para agradar a si mesmo.
Ler todo o dicionário impresso só para encontrar uma boa rima
e depois, incubar o verso pra ver se nasce uma obra prima.
Ler um autor desconhecido, ver um filme sem indicações, conversar
com um velho amigo sem segundas
intenções.
O ponto do dulce far niente é muito difícil de acertar. Depende
de cada ingrediente que durante a vida você cultivar.
Saber apreciar esse nepente não é privilégio da aposentadoria.
Não se aprende assim, de repente. Há que se praticar um pouco a cada dia.