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Gota a gota


Nasci.


Um profundo poço vazio.
Com cinco filtros perfeitos
e um sexto, que às vezes faz sentido.
 
Através deles,
como se fosse um dreno ao viés,
a vida foi me preenchendo: Gota a gota.

Primeiro, entraram as pedras mais pesadas,
depositadas bem no fundo da infância
e serviram para controlar a umidade da alma
e fixar meus pés na terra.
(Nasci tão leve e líquida, não fosse esse peso,
eu seria um pássaro ou um peixe).

Com o tempo, a vida foi instilando outras peças,
encaixando-as umas sobre as outras,
deixando raros intervalos entre elas.

Por esses vãos,
circulavam rios de sentimentos.

E assim, ela foi fazendo seu trabalho.
Construindo-me.

Habitou-me de amigos, amores, filhos.
Ergueu paredes, dividiu-me,
plantou jardins, porões, sótãos, teias.


Quando me dei conta, estava cheia.
Comecei a escavar-me.

Não importa se o que transborda
desta comporta é bom ou ruim.
Estou purgando:
Gota a gota.

Abrindo espaços dentro de mim.

Procura-se sono perdido


Por acaso deixei meu sono aí na tua casa?
Procure-o em cima da cama,
no tapete da sala,
no cesto de roupa...
Não consigo encontrá-lo.
Acho que o perdi
em algum lugar do teu corpo
quando ali (de)morei.

Ou o escondestes na tua boca
para que eu continuasse
procurando por teus beijos?


sem cigarro, sou intragável - para Bia de Luna

"sem cigarro, sou intragável" - Bia de Luna



BIA
be
bia
e
comia
poesia
e
traga
va
rios

trazia
a
braços
crivados
de
ar
ame
farpado
debaixo
das
unhas.
Vá, Bia...
Vá.
Me espere
lá.

Poesia Dia das mães


Ei você,
que está procurando um poema
que se pareça com sua mãe,
que não é nenhuma santa,
nem uma modelo de capa de revista,
que não é artista
nem grande cozinheira.

Você,
que tem uma mãe
que não é tão companheira,
que não te ama o tempo inteiro,
que não te perdoa sempre,
que não é lá uma brastemp.

Você,
que acha as poesias do dias das mães
"bonitinhas, mas não rima com a minha",
que não sabe o que fazer de almoço,
que adoraria fica dormindo,
como se fosse um domingo qualquer.

Você mulher,
que é mãe e não se identifica
com nenhuma dessas mensagens,
porque não é tão bonita,
nem tão forte,
nem tão divina
quanto as que vendem nos comerciais.

Ei, você!
Relaxa...
Os dias são todos iguais
e a maioria das mães
são normais,
assim como você e eu: mortais

OLHARES




Não me olhes
com esses olhos de melindres
pão de mordaça
farpa de ferpa
arame farpado
desconfiados
vesgos
um pra cada lado
não me olhes
com esses olhos findos
fundos
prometendo sois ao mundo
cuidado
eles traem
e atraem
suicidas
não me olhes
com esses olhos alheios
que procuram atalhos
e se recolhem em infâncias
lilázes
olhos que bóiam
na cerveja caipira
curiosos
furiosos
famintos
fumegantes
olhos que fogem
e tropeçam em esquinas
que me ensinam
onde meu fogo ocorre
olhos que me chovem
e me acendem
não me olhes com esses olhos
de ovo frito estrelado
decididamente
não me olhes
com esses olhos
de cigarro apagado

(CAFÉ CULTURA 06/12/04: Bia de Luna, Marilda, Altair, Juliana, Celita)
poema escrito a 5 mãos num bar numa daquelas noites infernais
A pontuação fica por conta do leitor
Coloque onde quiser
Onde fizer sentido
Se fizer

Á veces creo que te amo


Á veces creo que te amo, pero luego se me pasa

Es cuando lluevo
Tromolo
Humedezco
Emulo tierra en el celo
Lloro
Pero, quando escampa
Te evaporo

Es cuando despierto
Rebooto
Reinstalo saberes
Sabores
Deleito recuerdos
Reluto deletarte
Y salvo-temporariamen-te

Es cuando me río
Diluyo
Fluyo
Desaguo en tus braços
Afluente
Y me olvido que soy
Solamente riacho.

Es cuando sueño
Me extasio
Fijo la mirada en el vacio
De la saudade
Pero hay siempre
Un maldito mosquito
Que vuela de repente
Trayéndome de vuelta
A la realidad.

(marilda confortin)

Programa eleitoral gratuito


Odeio quando resolvem
testar meus limites
encostando um revólver
nas minhas costas.

Não gosto de desafios
de roleta russa.
Não viro a casaca
Nem visto carapuça.

Prefiro o alvo concreto
de um torneio de tiro
às metáforas estúpidas
dessa política corrupta.

Não meço ninguém
só pelo que fala
nem pelo que cala
mas pelo que sente.

Sinto muito,
não sei ser diferente.
Meu instinto não falha.

Canalhas também têm
cabelos brancos
e olhos azuis.

Um isto

Um isto

É meu o cisco
a faísca
o escuro ínfimo
que existe no mundo
quando teu olho pisca
é meu teu medo
teu segredo
sou eu

corpus christie

Na vernissage do Alexandre Linhares, não teve como não se impressionar com o imenso crucifixo coberto de hóstias formando a imagem de Cristo. Aqui, uma foto dessa obra e um poema meu. Até parece que foram feitos um para o outro... rs

corpus christie

Teu corpo, não dispo:
visto.
Tua cruz, não ergo:
vergo.
Teu pecado, não absolvo:
absorvo.
Tuas chagas, não vi:
cri.
Teu cio, não sacio:
cedo-me.

E por te amar,
não te toco,
abstenho-me.


Não te traio,
abstraio-te.

Cubro teu falo
e me calo
cúmplice.

Partidos

Para Elza e outros amigos candidatos espalhados pelos vários partidos políticos


Era um elo,
quebrou-se.
Ele foi-se
eu martelo.

Éramos só dois
unidos.
Hoje somos tantos
partidos.

Mil vezes maldita

Parem!
Eu, pecadora, confesso: Sou reincidente no amor.
Mas não mereço a pena.
Careço é de pena, Meritíssimo!
Cristo disse: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
Ingenuamente, acreditei.





O Alexandre disse que este meu poeminha aí, inspirou-o nessa série que mostra "A arte maldita, a sociedade maldita, a hipocrisia maldita, o desespero maldito e a crença na fé e no amor". 

Sinto-me honrada e morta de curiosidade para ver o resultado. 
Estarei lá, sim, Alexandre. E claro,  vou recitar todos aqueles malditos poemas que você gosta.

Lidando



Daqui,
Dali,
na lida
não li
nada

releitura do W.Abreu:

naaridalidadavidadanadaquelequenada

com


Encontrei a palavra com na lata do lixo.
Suja, rasgada, desbotada.
Perdida da frase, perdeu o sentido.
Com pena, embrulhei-a com um poema.
Mas, prolixa que sou,
asfixiei-a.

Seu filho da Sunta!



O Gerson
é um grandessíssimo FILHO DA SUNTA!
É isso que ele é.
Tudo bem... Eu também.
De outra tão Sunta quanto a santa sua mãe(dele).
Duas mulheres sensacionais.
O homem que tem uma mãe
com um nome assim suntuoso
não pode ser normal.
Já nasce com uma sina:
Viver olhando pra cima
pra ver se sua alma ainda está lá
presa num fio de barbante
que a qualquer instante
pode arrebentar.
Quando a Assunta pôs no mundo esse menino
sabia que não ia ser santo.
Nem esperava tanto ...
Mas, um anarquino?!
Bem que podia ser engenheiro,
advogado, cientista
alguma coisa que desse dinheiro.
Mas não! Deu de ser artista...
E o pior ainda estava para acontecer.
Pobre Assunta, quase teve um enfarte:
- Manhê!!! Já sei o que vou fazer quando crescer:
- O quê filhinho?
- Vou criar a Agenda Arte!

(para meu amigo Gerson Guerra – criador da Agenda Arte e para nossas santas mães, que têm o mesmo nome)