Danilo Avelleda espetáculos teatrais e Cia Máscaras de Teatro apresentam:
Peça dramática com texto de Helena Sut e Danilo Avelleda
e poemas de Marilda Confortin
A porta estava entreaberta, resolvi entrar....
“A porta estava entreaberta, resolvi entrar...”. O comentário espirituoso de um dos expectadores dá início à longa jornada pelo pequeno corredor que leva ao palco. Embebida pelas palavras inconfundíveis de Helena Sut e Marilda Confortin, a platéia acompanha os temores, virtudes e segredos de Dionísio e Pilar.
O cenário é simples e cheio de elementos significativos. Um banco, um envelope lacrado, um livro. Uma árvore sombria cheia de galhos nus que se estendem em direção ao infinito como mãos gélidas de dedos entreabertos suplicando um convite. Conta-me tudo, não me esconda nada. O véu em volta do palco dá uma sensação etérea, quase sonhadora, como se os atores e sua história estivessem na fantasia dos olhos de quem os observa. Uma mulher de passos lentos andando ao seu redor, como quem representa o espectro do desejo não realizado a atormentar todas as almas que respiram.
Sob as luzes de todas as estações, Dionísio e Pilar começam a despir suas fantasias. Pilar revela seu desejo de viver sem traços marcados. Dionísio conta com dor e culpa a morte de sua amada Alma, seu eterno fantasma preferido. Ambos com a dificuldade de ter o corpo nas mãos sem poder segurar a alma, “não me deixe morrer”.
No amor puro de erotismo sutil do casal saltam figuras já muito conhecidas do íntimo de cada um. A angústia, a esperança, a alegria de entristecer em lugares bonitos. O ódio dos planos amorosamente formados e frustrados. O medo e o desejo dolorido de amar, de ser amado. A verdade tão bem escondida em um segredo que nem seu fiel guardião pode ver.
O perfeito casamento do texto de Helena Sut e Danilo Avelleda com os sedutores poemas de Marilda Confortin provoca as ilusões que existem dentro de cada um, levando às mais diversas reflexões e emoções. O mundo é feito de pilares onde Dionísios se entrelaçam. A vida está cheia de alma.
Estamos designados a andar pela vida lançando olhares furtivos às portas entreabertas. Entramos em algumas, encontrando vultos, vozes, luzes, sombras, amores; passamos direto por outras, a necessidade de continuar andando fala mais alto em nossas cabeças. Procuramos nessas portas os desejos mais profundos, que não podemos alcançar. Estamos condenados a mais doce das condenações: fantasiar.
No fim do espetáculo, quando a platéia deixa o teatro ruidosamente, o véu no placo balança ao sabor de uma brisa, suas pontas entreabertas, como que convidando a entrar.
Anita Fernandes
Poesia Dia das mães
Restrições
OLHARES
Não me olhes
com esses olhos de melindres
pão de mordaça
farpa de ferpa
arame farpado
desconfiados
vesgos
um pra cada lado
não me olhes
com esses olhos findos
fundos
prometendo sois ao mundo
cuidado
eles traem
e atraem
suicidas
não me olhes
com esses olhos alheios
que procuram atalhos
e se recolhem em infâncias
lilázes
olhos que bóiam
na cerveja caipira
curiosos
furiosos
famintos
fumegantes
olhos que fogem
e tropeçam em esquinas
que me ensinam
onde meu fogo ocorre
olhos que me chovem
e me acendem
não me olhes com esses olhos
de ovo frito estrelado
decididamente
não me olhes
com esses olhos
de cigarro apagado
(CAFÉ CULTURA 06/12/04: Bia de Luna, Marilda, Altair, Juliana, Celita)
Altair de Oliveira
Pudesse, eu seria doce
e, se desse, desde o começo
de sede, eu viesse cedo
relendo o seu endereço.
E fosse avesso do avesso,
azul do tanto que houvesse
gastasse um gesto de gesso
num beijo gosto de festa.
E nunca mais me esquecesse
feliz em todas as espécies...
Por mais que a vida nos perca
e a morte esperta nos pesque.
III FESTIVAL INTERNACIONAL DE POESIA EM GRANADA
Nunca vi tanta sentada gente numa praça para ouvir poesia |
Elisa Lucinda
[...] Sempre quis um amor que coubesse no que me disse. Sempre quis uma meninice entre menino e senhor, uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo BOM DIA morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro, coisa da mesma embocadura, sabor da mesma golada. Sempre quis um amor de goleadas, cuja rede, complexado pano de fundo dos seres, não assustasse.
Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia, da cama me levasse. Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda, metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber, o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma, seu conteúdo. Contudo, sempre quis um amor que me coubesse no futuro e me alternasse em menina e adulto, que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério, que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor [...]. Trecho do poema DA CHEGADA DO AMOR - de Elisa Lucinda
Á veces creo que te amo
Á veces creo que te amo, pero luego se me pasa
Es cuando lluevo
Tromolo
Humedezco
Emulo tierra en el celo
Pero, quando escampa
Te evaporo
Es cuando despierto
Rebooto
Reinstalo saberes
Sabores
Deleito recuerdos
Reluto deletarte
Y salvo-temporariamen-te
Es cuando me río
Diluyo
Fluyo
Desaguo en tus braços
Afluente
Y me olvido que soy
Solamente riacho.
Es cuando sueño
Me extasio
Fijo la mirada en el vacio
De la saudade
Pero hay siempre
Un maldito mosquito
Que vuela de repente
Trayéndome de vuelta
A la realidad.