SAL DA IDADE
Grafitrix Al dente
O endereço do banco é http://cdeassis.wordpress.com
Eu já abri uma conta e depositei meus trocadilhos. Em menos de 24 horas, rendeu a formatação do poetrix acima e a ilustração abaixo, que acompanha minha biografia. Valeu, grande CLETO!
Eu sou só uma mulher que sofre de poesia crônica
eu sou só uma mulher que sofre de poesia
eu sou só uma mulher que sofre
eu sou só uma mulher
eu sou só uma
eu sou só
eu sou
eu
Mandado de busca e apreensão contra a poesia
Mandado de busca
e apreensão contra a Poesia
Senhores, minha poesia sumiu.
Botem os cães nos seus calcanhares.
Farejem tudo: becos, sótãos, rios.
Vasculhem céus, terras e mares.
Procurem nos dedos dos músicos,
no negro quadro de cada escola,
no fascínio quântico dos físicos,
na placa do cego que esmola.
Busquem nos diários e discos rígidos;
nos papiros, nas lápides dos túmulos;
nas paredes dos banheiros públicos;
nas gavetas e nos grafites dos muros.
Investiguem as pedras das cavernas;
os evangelhos apócrifos e as escrituras;
os templos, os conventos e as tabernas;
as democracias e as ditaduras.
Vejam nas celas e nos parreirais;
nos campos de girassóis maduros;
nos poetrix, epigramas e haicais;
no passado, no presente e no futuro.
Pesquisem nos álbuns de fotografias,
nos bares, museus, sebos e alcorões.
Se não encontrarem, revirem as livrarias,
costumam prendê-la nos porões.
E que isso não se repita!
Queres comprar meus olhos?
Não, não estão à venda.
Se te ensinassem a ver
te emprestaria.
Uma fresta bastaria
para eu encontrar o sol.
Me conheço de escuros,
de muros,
quinas,
esquinas e encruzilhadas.
Vais me amordaçar para que eu emudeça?
Esqueça!
Eu falo pelos cotovelos,
pelos pêlos,
pela saliva,
pelos olhos,
pela poesia.
Vais vendar meus olhos para que eu te siga?
Pois venda-os!
Venda tua alma ao diabo se quiseres!
Eu me nego!
Nem cega,
nem muda,
nem morta,
me entrego!
Poesia Sobre nós e elos
Sobre nós e elos
Acontece,
que somos elos de uma corrente
feita por um desses deuses dementes
que se divertem com a desgraça da gente.
Acontece,
que estamos sempre a procura
de uma corrente segura
pra nos encaixar.
Mas, acontece
que essa maldita corrente
sempre arrebenta no mesmo lugar.
Acontece,
que existem elos perdidos
que vieram ao mudo
só para serem partidos.
Acontece,
que somos elos de uma corrente
feita por um desses deuses dementes
que se divertem com a desgraça da gente.
Acontece,
que estamos sempre a procura
de uma corrente segura
pra nos encaixar.
Mas, acontece
que essa maldita corrente
sempre arrebenta no mesmo lugar.
Acontece,
que existem elos perdidos
que vieram ao mudo
só para serem partidos.
Elos órfãos,
que vivem sós,
que se amam,
mas não se atam,
como nós.
As vezes me pego sonhando
com um universo paralelo,
cheínho de elos,
todos sem par.
Quem sabe é por lá
que nossos chinelos
vão se encontrar
que vivem sós,
que se amam,
mas não se atam,
como nós.
As vezes me pego sonhando
com um universo paralelo,
cheínho de elos,
todos sem par.
Quem sabe é por lá
que nossos chinelos
vão se encontrar
Lua e dragão
Sabe aquela lua âmbar que apareceu ontem à noite?
Deu uma vontade louca de seguir a estrada que ela abriu no mar só pra ver onde vai dar.
Os homens são apaixonados pela lua.
Eu não.
Eu fui apaixonada por São Jorge.
Quando menina, eu queria casar com ele.
Mas daí, o tempo foi passando, fui esquecendo de rezar, fui gostando do pecado e acabei esquecendo do santo.
Agora quero casar com o Dragão. Descobri que dragões são figuras bem interessantes. Muito mais interessantes que os santos homens.
Ontem a noite, quando o Dragão apareceu dentro da lua âmbar, prometi que iria salvá-lo da espada de São Jorge.
Mas... e se o Dragão também estiver apaixonado pela lua como todos os homens que amei?
Mato aquela cadela!
tudo em mim anda a mil
tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu
tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas
LEMINSKI
Poetrix Vira-latas
Vira-latas
à Marilda Confortin e Manuel Bandeira
por Argemiro Gacia
por Argemiro Gacia
Revirando o lixo,
menos que um bicho
é um menino.
Argemiro Argemiro de Paula Garcia Filho
Argemiro é geólogo paulistano, poeta, poetrixta, editor. Escreveu o poetrix acima depois de ler um pequeno terceto meu que tratava sobre esse tema. Não nos conhecemos pessoalmente ainda, né Argemiro? Mas nos lemos, muito.
Seus sites: http://www.cantodeanjo.blogger.com.br/
Soneto a um poeta adolescente
À um poeta adolescente
Ah! meu caro e pueril amigo
Por que sofres por antecipação?
O cordão ainda te prende ao umbigo,
Mal conheces a dor de uma paixão.
Quiçá herdastes esse congênito fardo
Esse estigma de antepassadas dores
Como o vinho, da cepa lembra o amargo
Ou como o mel, o aroma das flores.
Não te deixes cair em desespero
Livra-te desse mal enquanto é tempo
Abandona essa amargura ao desterro
Não te apartes das horas felizes
Vive o que te é dado no momento
E enterre no passado tuas cicatrizes.
VÉSPERA - de Manoel de Andrade
Quatorze de março
mil novecentos e sessenta e nove.
É preciso…
é imprescindível denunciar o compasso ameaçador destas horas,
descrever esta porta estreita que atravesso,
esta noite que me escorre numa ampulheta de pressentimentos.
Um desespero impessoal e sinistro paira sobre as horas…
O ano se curva sob um tempo que me esmaga
porque esmaga a pátria inteira…
Nossas canções silenciadas
nossos sonhos escondidos
nossas vidas patrulhadas
nossos punhos algemados
nossas almas devassadas.
Pelos ecos rastreados dos meus versos
chegam os pretorianos do regime.
Alguém já foi detido, interrogado, ameaçado
e por isso é necessário antecipar a madrugada.
E eis porque esse canto já nasce amordaçado
porque surge no limiar do pânico.
Meu testemunho é hoje um grito clandestino
meus versos não conhecem a luz da liberdade
nascem iluminados pelo archote da esperança
para se esconderem na silenciosa penumbra das gavetas.
Escrevo numa página velada pelo tempo
e num distante amanhecer
é que o meu canto irá florescer.
Escrevo num horizonte longínquo e libertário
e num tempo a ser anunciado pelo hino dos sobreviventes.
Escrevo para um dia em que os crimes destes anos puderem ser contados
para o dia em que o banco dos réus estiver ocupado pelos torturadores
Contudo, nesta hora, neste agora
o tempo se reparte pra quem parte
e um coração se parte nos corações que ficam…
O amanhecer caminha para desterrar os nossos gestos
para separar nossas mãos e nossos olhos
e nesta eternidade para pressentir o que me espera
já não há mais tempo para dizer quanto quisera.
Tudo é uma amarga despedida nesta longa madrugada
e neste descompassado palpitar,
contemplo meus livros perfilados de tristeza
retratos silenciosos de tantas utopias,
bússolas, faróis, retalhos da beleza.
Aceno a Cervantes, a Lorca, a Maiakovski
mas só Whitman seguirá comigo
nas suas páginas de relva
e no seu canto democrático.
Contemplo ainda os pedaços do meu mundo
nos amigos do penúltimo momento
nas lágrimas de um benquerer
na infância de minha filha
e nesse beijo de adeus em sua inocência adormecida.
Nesta agonia…
neste abismo de incertezas…
abre-se o itinerário clandestino dos meus passos.
De todos os caminhos
resta-me uma rota de fuga, outras fronteiras e um destino.
Das trincheiras escavadas e dos meus sonhos,
restou uma bandeira escondida no sacrário da alma
e no coração…
um passaporte chamado… liberdade.
Curitiba, 14 de março de 1969
Manoel de Andrade
Pérolas do Poetrix
PÉROLAS
Doa-se
coração adestrado
com pedigree, vacinado
só não obedece ao dono
(Lilian Maial)
L-i-m-í-t-r-o-f-e
um que em mim
muito mal localizado
entre o fundo do poço e o olho do tornado
(Aila Magalhães)
Bumerangue
eu voto
tu votas
eles voltam
(Angela Bretas)
Cordeiro da deusa
sob o cutelo
ofereço meu corpo aos teus desejos
- tira o pecado do mundo!
(Goulart Gomes)
Assinar:
Postagens (Atom)