SOLIDÃO DE UMA ESTRELA
Sonia Maria Mazza
Somente uma estrela

ficou,
triste e só na melancólica noite.

As outras todas...
Umas morreram
outras
desapareceram.

E a estrela só,
vagando no firmamento
com sua lânguida luz
quase fenecendo,
tropeçava nas estrelas mortas
buscava lembranças
das desaparecidas.

Derramou, então,
as primeiras lágrimas
de saudade.

O firmamento
sóbrio e sombrio
fechado em seu mundo calado
permaneceu indiferente
à dor daquela estrela.

Tornando-se cúmplice da noite
tudo desapareceu,
deixando apenas
a estrela só.

E ela,
percorrendo o espaço sideral
viu todo o universo
e em seu pranto convulso,
sentiu-se ainda mais só....

Sônia Maria

O resto da minha vida - de Tonicato Miranda



para os amigos do Varandaes

Foto: Osni Ribeiro

Triste... é assim
meus olhos choram
cinza... o jasmim
refletindo a cor do céu
cinzas no jardim e em mim

O que fazer agora
com o resto da minha vida...
ouvir Bill Evans, por horas
a tristeza escorrendo, se deixando levar
rio abaixo, tempo afora

O piano deixa cair um plim
notas musicais em sequência
lentamente caem também de mim
são folhas da memória descendo
calmamente do rio ao mar, e ao fim

O que fazer amanhã
com o resto da minha vida
passear no parque envolto em lã
sentar num banco, mirar passarinhos
ver na pedra Bashô e o salto da sua rã

O piano convida e eu vim
emprestar o ouvido à emoção
a lágrima pulando do olhar assim
mais do que rio, ela é o barco da alma
reflexo musical, um acorde: meu plim

O que fazer na próxima semana
com o resto da minha vida
papéis antigos, fumaça na cabana
neste inverno rigoroso revejo amigos
um bom vinho pode me levar a Havana

Triste... é assim
meus olhos choram
cinza... o jasmim
refletindo a cor do céu
cinzas no jardim e em mim

Tonicato Miranda
Curitiba, 18/09/2004

O VENDEDOR DE AGULHAS

de Daniel Farias


há uma dor fria
que atravessa a fina lâmina
do vendedor de agulhas.

há uma metálica metáfora
que corta a tarde cinzenta,
entre surdinas e sirenes ocultas,
do desconhecido e invisível
vendedor de agulhas.

há um silêncio de ferro
nos rostos, nas almas
e nas calçadas por onde passa
o vendedor de suplicantes agulhas.


há um único fio que prende e conduz
o homem que passa, sem ser visto,
a outros homens que carregam
nos bolsos descosturados uma
dor que perfura a alma e denuncia
aquilo que se perdeu...

comovendo junto

árvores sem movimento
dói o mormaço lá fora

eu moro por dentro
vivo de brisa
e demoro longe

não vejo a hora
quebro vento
e arrumo galho

o pouso da ave
vale quanto penso
não move uma palha

apenas o sopro do sentimento
comovo uma folha

(Roberto Prado)

Grafitrix Rapidinha




Festejar
Miriam Brasil

Louca prisão que expõe meu corpo, outrora livre,
porque agora e não depois?
Ouso, arrojadamente, na entrega do sentimento emanado da presença ausente de teus olhos...
Ouço a balada ferindo rente e inexorável!
Oculto-me em defesas...
Finjo não perceber os anseios e apelos de tua alma
disparando explosivamente em minha direção...
Deliro na tentação...
E a noite do corpo sem estrelas
a tentar aplacar as tempestades que vertem de meus ossos.
Melhor... ousarei festejar os lilases!
(Miriam Brasil)

5 poemas de amor e ódio

Cinco poemas de amor e ódio escrito a 2 mãos apaixonadas
Por: Douglas Pereira e Marilda Confortin


I

Não há mais laços.
Só sobraram os nós.
Rotos, partidos.
Soçobramos nós.
Bagaços, feridos.

E quem tira essa ira que nem sei onde mora?

Tem hora que sinto na boca,
no oco do estômago,
no buraco do peito,
no escuro do olho,
nem sei direito.

Se eu me der um soco, você vai embora?

Preciso expurgar você de meu corpo,
vivo ou morto.

Como arrancar você de mim,
se estou cheia de você?
Se tem farpas suas em todos os meus cantos,
em todos os meus contos,
em todos os meus versos.

Se tem restos de sua saliva na minha boca,
estrepes de você nas minhas unhas,
ódio de você infeccionando minha alma.

Como tirar você da minha vida,
se não tenho mais vida?

Quando se odeia o próprio amor,
não se quer matar
se quer é morrer(Marilda)

II

Morrer não adianta.
Cada farpa de mim
continuará em tua alma
e ainda que o fim fosse
um fato consumado
eu perduraria no teu pó
além do tempo en que fui amado.

Se tu queres ser o nó
eu serei a corda
onde está amarrado
teu ódio e tua ira
que eu chamo de amor
e alimenta o gosto
que minha boca tem provado.

Se vais me odiar até a morte
hei de matar-te toda noite
e acordar dia a dia
no teu seio acomodado(Douglas)


III

Tu mentes!
Tua mente é doente
teu beijo envenena
teus braços, algema
teu semen, praga.

Te amei com suavidade vaga,
lambi teu suor,
salguei tua carne,
mas hei de te odiar
com fúria das tempestades,
te queimar com a ira dos raios
e povoar tuas noites com pesadelos.

Quando acordares ao meu lado,
com teu corpo dolorido,
vais desejar ter morrido, bandido! (Marilda)

IV

Se digo mentiras
é por que gostas de ouvi-las
sussurradas em teu ouvido,
de costas,
enquanto minha doença te infecta
e meu veneno te cura
meus braços te prendem
e tua pele sua
untando-me de ti
iluminando raios
cantando trovões com canções
em fá sustenido
e quando eu acordar dolorido
vais me ver ao teu lado
e ao invés de bandido
dirás: - Bom dia, querido! (Douglas)

V

Então venha, desgraçado!
Me detenha, meu amado!
Arranca essa mágoa
que de mim se apossa,
extraia essa dor
que me empossa a boca
cessa o estertor
que embarga essa voz rouca.
Impeça meu grito,
minha fuga,
meu suicídio.

Te amarei por hora,
morrerei depois
com sempre foi(Marilda)

EXPONDO AS VÍSCERAS - JB do Lago


 Um olhar sobre poemas de Marilda Confortin e JB Vidal
 por João Batista do Lago

http://joaopoetadobrasil.wordpress.com/2008/08/21/expondo-as-visceras/

Tenho escrito, muito vagarosamente, uma tese sobre a coisa poética visceralista, aquilo que entendo como sendo poesia visceral; ou seja, a poesia que surge do instinto do instante (G. Bachelard) em toda a sua brutalidade fenomenal; a poesia que insurge contra verdades exatas ou absolutas, produzidas a partir de um lirismo de tipologia cartesiana ou kantiana; a poesia que se inscreve e escreve a política e a história na “carne do mundo”, onde o real se mistura à realidade, subvertendo assim a realidade dada, ajustando a poesia e o poeta ao campo de mundanidade – (Merleau-Ponty).


Evidentemente que enfoco tudo a partir de uma abordagem epistemológico-fenomenológico-existencial (se é que assim posso conceituar), partindo sempre de fenômenos imagéticos, noutras palavras, dos desenhos ou das imagens que “o texto poético” causa em mim: sou, assim, um caçador de imagens ou um arqueólogo de sombras existentes nas carnes poéticas. O que quero inferir com esta minha frase é que, não tenho quaisquer preocupações com “campos psicológicos ou psicanalíticos”. Acho-os, em verdade, representações de puro “significantes vazios”.

Neste artigo, e de forma extremamente superficial, tentarei demonstrar este arcabouço epistemológico-fenomenológico-existencial, partindo da poética de dois poetas que “caminham” por este espaço: Marilda Confortin e J.B. Vidal. Dela utilizarei a poesia “Hoje Estou Naqueles Dias…”; e dele, a poesia “Ofertório-Dor”. Ah! Como eu gostaria de ter escrito essas duas poesias! E mesmo sem tê-las escrito tenho a “impressão” que elas foram escritas por mim! E mesmo sem tê-las escrito elas estão em mim “encarnadas” com todos os seus campos de “mundanidade”, com todos os seus “pré” e “pós” políticos e históricos, me levando a cada leitura às imagens já registradas, bem assim, à criação de novas imagens a serem criadas. E é tudo que peço aos leitores: que captem as imagens contidas em ambas: Vejamo-las:

HOJE ESTOU NAQUELES DIAS…
Marilda Confortin

Dias em que o corpo
me castiga
por eu ter exercido
o poder divino
de me negar a dar à luz.

Estou naqueles dias
de terra amaldiçoada
que não fecundou
nenhuma semente
dentre as milhares
que foram plantadas.

Estou naqueles dias em que choro…
Como quando Ele se arrependeu
de nos ter dado ventres férteis
e inconseqüentes
e chorou,
chorou tanto que seu pranto
afogou todas as pragas que nasceram
nos dias que antecederam
aqueles dias de dilúvio

Hoje estou naqueles dias
em que Deus me usa
para abortar a humanidade.
Me deixe chorar, sofrer e sangrar só.


OFERTÓRIO-DOR
de jb vidal

a dor que ofereço não foi provocada
nem apascentada por mim e a solidão
veio com a chuva, c’os raios
com os anéis de saturno, na cauda do meteoro
fez poeira de lágrimas
e instalou-se nesta podridão
soube então da dor de parir
e parido fui,
da dor da fome e fome senti
da dor do sangue e o sangue correu
em minha’lma gnóstica
a dor assumiu e sobreviveu

quero então oferecer
esta dor maior que o corpo
mais que desprezo e humilhação
mais que guerras e exploração
mais que almas aleijadas
mais que humanos em farrapas degradação

ofereço a dor do amor que amei
da partida sem adeus
da saudade sem sentir
da espera inquietante
do futuro irrelevante
da ânsia divina de morrer


Convido-te agora, caro leitor, para, comigo, construir as imagens que ressaltam destas duas poesias. Mas, antes levantemos uma questão que se me parece indispensável e fundamental para a pintura deste quadro: em que ponto os dois “sujeitos” que falam na poesia cruzam e se entrecruzam nos seus caminhares? Em qual “casa” eles se “encarnam” para construírem o “equilíbrio” para poder deblaterarem suas dores? Qual a cor e a espessura da tinta que ambos utilizam para pintarem seus quadros ou simplesmente “um” quadro? Qual o enunciado dos discursos desses sujeitos? Quais “nuanças” reside entre ambos?

Resgatemos, pois, as imagens que ressaltam destas duas poesias: a) o ponto de cruzamento e entrecruzamento dos dois “sujeitos” que falam nas poesias é, exatamente, o ponto da libertação de suas dores. E com que força eles gritam essa libertação! É tanta e quanta que (penso!) nenhum ser humano escapa ou escapará das palavras vérsico-sálmicas de ambos: (Marilda) – Hoje estou naqueles dias/em que Deus me usa/para abortar a humanidade./Me deixe chorar, sofrer e sangrar só. (Vidal) – ofereço a dor do amor que amei/da partida sem adeus/da saudade sem sentir/da espera inquietante/do futuro irrelevante/da ânsia divina de morrer.

Há ou haverá sublimação maior que esta, ou seja, em que os dois “sujeitos” que falam nas poesias se oferecem como “um cristo” oriundo da mundanidade, para “abortar a humanidade (Marilda); da ânsia divina de morrer” (Vidal)? Que imagem (ou imagens?) fenomenal! Só mesmo os poetas conseguem considerar a imaginação como potência maior da natureza humana.

Mas continuemos construindo as imagens que nos sugerem os poetas. Consideremos agora a segunda questão: b) em qual “casa” eles se “encarnam” para construírem o “equilíbrio” para poder deblaterarem suas dores? Eis aqui a questão central: antes de ser “jogado no mundo”, somos “abrigados” na “casa”. Ou seja: antes de tudo – de tudo mesmo – somos “encarnados” na mundanidade das casas. Somente a “casa”, e em especial a “casa natal”, nos fornece os elementos essenciais para o processo de aprendizagem e de apreendidade do mundo. Que imagem fenomenal, caro leitor! Ao ponto de me fazer lembrar da Alegoria da Caverna, de Platão (e traçar uma analogia, aqui e agora, sobre isso tornaria este artigo muito extenso). Quem de nós, porventura, por um instante sequer, não já projetou ou projeta a “sua” casa como “campo de concentração de segurança”? Com certeza todos! Mas, qual é a “casa” dos “sujeitos” que falam nas poesias? É a casa primeira: o corpo. É no corpo que habita a poesia. É no corpo que habita o poeta. É no corpo que a poesia é encarnada. É no corpo que o poeta é encarnado.

Você, caro leitor, pode até imaginar que eu estou falando de um campo metafórico. Contudo ouso dizer-te: não! Não estou aqui me referindo a metáforas – muito embora ela se configure implicitamente -; mas à existência dos “sujeitos” das poesias que fazem (e dão) sentido; falo da existencialidade; falo do real e da realidade, desse mesmíssimo real que subverte a realidade, para ser a realidade do real: a casa-corpo no seu pleno movimento de formas que surgem a cada instante do fundo de si: (Marilda) – Dias em que o corpo me castiga; (Vidal) – Esta dor maior que o corpo. Que imagens! Que imagens! Fantásticas! Perceberam o movimento dialético dos versos que são, per se, construtores de novas imagens? Senão vejamos: (Marilda) – corpo X castigo; (Vidal) dor X corpo. Quantas imagens surgem na mente a partir dessa dicotomia dialética!

Passemos para a terceira questão proposta por mim: c) qual a cor e a espessura da tinta que ambos utilizam para pintarem seus quadros ou simplesmente “um” quadro? Muito embora fosse prudente falar dos vários quadros que poderiam ser pintados, sugiro que me acompanhem no raciocínio de apenas uma imagem. Os “sujeitos” que falam nas poesias nos sugerem quadros pintados com a cor vermelha em suas “nuanças” várias. Mas aqui podemos ressaltar (também!) que tais “nuanças” não sejam pura e tão-somente matizes figuradas. Não. A cor vermelha que sobressai da imagem que crio é sangue puro… vivo… correndo por todas as veias e saltando por todos os poros para significar uma matiz existencialista, como nos mostra esta estrofe da poesia “Ofertório-dor”, do poeta JB Vidal:

soube então da dor de parir
e parido fui,
da dor da fome e fome senti
da dor do sangue e o sangue correu
em minha’lma gnósticaa dor assumiu e sobreviveu

ou como nos diz a poeta Marilda Confortin em sua poesia “Hoje Estou Naqueles Dias…”:

Estou naqueles dias em que choro…
Como quando Ele se arrependeu
de nos ter dado ventres férteis
e inconseqüentes
e chorou,
chorou tanto que seu pranto
afogou todas as pragas que nasceram
nos dias que antecederam
aqueles dias de dilúvio

Que imagens! Que imagens! Fantásticas imagens! Fenomenais!

São imagens assim que nos remetem à inferição de Gaston Bachelard: “a Filosofia da Poesia (…) deve reconhecer que o ato poético não tem passado, pelo menos um passado próximo ao longo do qual pudéssemos acompanhar sua preparação e seu advento (…). A imagem poética não está sujeita a impulso. Não é o eco de um passado. É antes o inverso: com a explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa de ecos e já não vemos em que profundeza esses ecos vão repercutir e morrer. (…) a imagem poética tem um ser próprio, um dinamismo próprio. (…) a imagem poética terá uma sonoridade de ser. O poeta fala no limiar do ser. (…) a imagem poética é, com efeito, essencialmente variacional. (…) a imagem não tem necessidade de um saber (…) é uma linguagem criança. (…) Nada prepara uma imagem poética: nem a cultura, no modo literário; nem a percepção, no modo psicológico”.

Talvez pensando nessas palavras de Gaston Bachelard foi que C.-G. Jung declarara: o interesse desvia-se da obra de arte para se perder no caos inextricável dos antecedentes psicológicos, e o poeta torna-se um caso clínico , um exemplar que porta um número determinado da psychopathia sexualis. Assim, a psicanálise da obra de arte afastou-se do seu objeto, transportou o debate para um âmbito geralmente humano, que não é de forma alguma específico do artista e principalmente não tem importância para a sua arte”.

Quanto às duas últimas questões por mim propostas – Qual o enunciado dos discursos desses sujeitos? Quais “nuanças” reside entre ambos? -, caríssimos leitores, se vocês perceberem bem elas se encontram imbricadas no contexto do texto. Transformaram-se, naturalmente, em questões intertextuais.

João Batista do Lago, poeta e crítico Maranhense
Blog do João: http://joaopoetadobrasil.wordpress.com/



OVERDOSE - de Claudia Muniz



Sentado à beira da rua dei um trago em minha vida.
Injetei-me no deleite de meu corpo e na sofreguidão de meus dias.
Contei com família, nenhuma.
Ri com os amigos que não tive.
Andei de mãos dadas pela praça, com a namorada que não tinha braços.
Li e estudei, tudo que ninguém jamais ouviu.
Cantei, dancei, vivi...
E fui para um mundo sem nome.
Lá havia letreiros onde era possível ler: "Olhe dentro de você"
E fui eu! Para dentro de mim.
Passei pela cabeça e ela estava confusa,
não deixava que meus olhos vissem,
 minha boca falasse e meus ouvidos escutassem.
Desisti.
Fui para o estômago e lá me diverti.
Havia muita "beer", com bolinhas efervescentes.
No pulmão, foi impossível, nada pude ver.
Quando estava lá, fui atingido pela neblina de Cubatão.
Já estava cansado, mas, por curiosidade, quis visitar o coração.
Não foi bom! Ele estava vazio, oco, vago...
E então senti que fortes alucinações me tomavam e com elas meu corpo se retorcia.
Morri!
E foi por "overdose" de mim mesmo.

Cláudia Muniz

Aposentadoria

Aposentar é sinônimo de alojar, abrigar, agasalhar, habitar, jubilar. Origina-se de aposento que por sua vez vem da poética palavra pouso. Com tantas interpretações mais agradáveis, porque é a palavra aposentadoria é usada para nos remeter ao triste ato de recolher-se inativamente aos aposentos? O que é que tem de errado com os aposentos de nossa casa? Quem disse que nossos aposentos não são tão bons quanto os dos nossos patrões? Mesmo simples e pequenos, construímos nossos humildes aposentos com muito amor e carinho. Porque não desfrutá-los?


Depois de mais de trinta anos de ausência, ocupando aposentos alheios, enfim vou exercer o direito e a satisfação de brincar de casinha.

Estou com muita vontade de pousar pousadamente em meus próprios aposentos e acarinhá-los, ajeitá-los, organizá-los.

Costurar calmamente os furos do meu pé-de-meia, pregar os botões para que habitem todas as casas das camisas esquecidas nos armários, libertar todos os personagens dos livros que ficaram presos na estante da sala, conhecer e criar outras histórias, revisitar os retratos largados naquela caixa de sapatos e organizá-los num álbum ou num slide show, para que minhas lembranças repousem eternamente em berço esplêndido enquanto eu ainda possa curtir a vida ao som do mar azul e um céu profundo.

E depois de rimar aposentadoria com poesia, ainda quero ter tempo e coragem de me aventurar em novos vôos que me levem a pousar em aposentos completamente desconhecidos. E quando eu cansar desses pousos imprevistos e tiver que fazer um pouso forçado, quero voar de volta ao meu lar e pousar e repousar tranquilamente no aconchego dos meus aposentos, como uma boa e velha aposentada feliz.

Essa não é uma excelente maneira de encarar a aposentadoria? É sim!

Mas, eu ainda vou resgatar outro sinônimo da palavra aposentadoria. É um sinônimo que deveria substituir legalmente a palavra aposentadoria (talvez eu faça uma campanha para mudar esse termo). Vejam lá nos dicionários: Aposentadoria é sinônimo de jubilação. Jubilar significa encher-se de alegria, de contentamento, regozijar. Regozijo significa grande gozo, duplo contentamento, muito prazer. Jubileu é uma indulgência concedida pelo Papa, uma honraria concedida pelas academias, uma festa de aniversário, uma grande comemoração. Jubileu em hebraico significa sons de trombetas. Quem atinge a jubilação, recebe parabéns e não pêsames.

Por isso, deixo aqui meu agradecimento a todos os companheiros de trabalho que contribuíram para que eu chegasse à jubilação com todos os meus membros, órgãos e sentidos inteiros e saudáveis e pudesse conscientemente comemorar e gozar o resto desta vida que é bonita, é bonita e é bonita.

Fiquem bem, perdoem por eu não ter sido genial, por eu não ter sido tão inteligente e forte quanto vocês mereciam que eu fosse e por eu não ter feito nenhum milagre. Apesar de ter herdado o nome de Maria, nunca fui e nem pretendo ser santa.

Muito obrigada, foi uma honra e um privilégio trabalhar com vocês e contem comigo, mesmo que não seja para o trabalho.

Aos amigos da prosa, da poesia, da música, da noite, das viagens e do papo furado, que tiveram paciência para me esperar, deixo um recado: Me aguardem! Estou voltando e não tenho mais hora pra dormir nem pra acordar.

Morcegos amarelos


Poema de Tonicato Miranda
para Marilda Confortin
a poesia quando vem a mim
vem assim
aos poucos
de manso
para mansinho
de um ganso
para o patinho
contornando tocos
desviando dos loucos
ativando meus sentidos
mudando minha cor interior
recuperando dados perdidos

a poesia quando vem a mim
bem assim
vem bailando
de vestido rodado
saia de chita e fitas
pés descalços
amassando o tablado
fandango pulsando
meu coração e o sangue
jorrando em todos os meus rios
arrastando tudo das margens
enchente forte em todas as imagens

a poesia quando vem a mim
aranha vistosa
às vezes lânguida
às vezes cândida
quase sempre cheirosa
mas pode também ser
revolucionária, guerreira
mesmo quando vem de mulher
arrebatando meu olhar e este mar
que há dentro de mim qual concha
abrigando pérolas que desconheço

a poesia quando vem a mim
vem assim
muda meu jeito
açoita meu peito
deixa-me triste ou quieto
passeando por bem perto
quase recolhido, na gruta escondido
eu e meus morcegos amarelos e belos

Tonicato é meu pareceiro de escrita de contos e cartas literárias. Tonicato foi proprietário de uma das mais curitibanas livrarias desta cidade, a Ipê Amarelo. Tonicato é arquiteto de ciclovias. Tonicato é poeta, proseador e um grande amigo.


POETRIX SOBREMESA

SOBRE MESA

Deu-me três beijinhos.
No quarto,
foundie.

sou feito de curitiba, por Thadeu Wojciechowski


e o Thadeu escreveu essa homenagem a todos os artistas de Curitiba:

sou feito de curitiba


já quis morar em nova york das muitas gentes
amsterdam de todos os bagulhos
tóquio dos mil sóis nascentes
e até são paulo coberta de entulhos
mas não, fui ficando por aqui mesmo
o mundo é pequeno pra mais de uma cidade
e minha vida é tudo que tenho
curitiba entrou nela e, pra minha felicidade,
no seu ecossistema existiam potys leminskis
soldas prados trevisans mirans vellozos
ivos alices buenos buchmanns guinskis
koproskis rogérios pilares franças rettamozos
paixões backs bárbaras shoembergers hirschs
minha mãe meu pai tios avós irmãos primos
pessoas do mundo inteiro como meus vizinhos

já quis morar em outros planetas, outras galáxias
mas eu sou feito de curitiba da cabeça aos pés
corre em minhas veias seus bosques, ruas, praças
vanzolins, marildas, coronas, diedrichs, josés
em cada uma de minhas moléculas, átomos, partículas
collins kolodys lours farias tataras cardosos
leprevosts góes vulcanis smaniottos claudetes
dantes flávios recchias bettegas setos viralobos
sneges justens pryscillas arnaldos octávios bergers
e fui ficando cada vez mais parecido com curitiba
e fui algemado a essa minha alma gêmea
estrela de cada dia estendida por toda minha vida
minha mulher, minha puta, minha santa, minha fêmea
eu, do berço ao túmulo, minha caminhada inteirinha
antonio thadeu wojciechowski, polaco da barreirinha


Esse é o cara. Poeta maior de Curitiba.  Antonio Thadeu Wojciechowski , o verdadeiro polaco da Barreirinha. O meu mestre, Saboro Nossuko. Olha esse diálogo:

- Mestre,

o dia-a-dia sempre me emociona.
O sol aceso como uma lâmpada,
o céu a nos servir de tampa,
o vento que a tudo detona.
- É, essas coisas existem!
- Mas o senhor não vê beleza nelas?
- Vejo graça no que dizes!
- Como assim?
- Na inocência de tuas comparações,
na fragilidade de tuas conclusões.
- Mas tenho lido tanto, mestre.
Será que nunca vou aprender?
- Cala boca, idiota!


Duas horas após profundo silêncio,
o mestre retoma:
- O que aprendeste neste tempo?
- Só uma coisa, mestre.
- E que coisa foi essa?
- Não te interessa!
- Estás começando a virar um mestre!


O livro do Thadeu "Saboro Nossuko", ocupou por um tempo bem curto, o lugar de honra da minha casa: a primeira prateleira do banheiro. Quando um livro está na primeira prateleira, significa que todos os membros da família e amigos estão lendo. Quando some do banheiro, é sinal que algum visitante surrupiou porque gostou também. 

Obrigada pela honra de me citar no poema, Thadeu.

Corvo na manteiga

O clima de Curitiba confunde até as flores.  Estamos em outubro e as fores de maio estão cheias de botões. Parecem com a cara do meu filho adolescente explodindo em  espinhas. Não sabem se abrem ou se fecham em si. Vou colocá-las na janela para que vejam passar as cinco estações do Paulo Leminski. Quando cheguei nessa cidade lá pela década de 70, desembarquei na primeira das estações: A rodoferroviária. No mesmo dia, senti na pele as outras quatro. E quando fui procurar a casa de minha irmã na rua Mateus Leme, tive certeza que se continuasse andando em linha reta, encontraria o mar. Aquela rua tinha cheiro de mar, barulho de mar e casas de frutos do mar. Imperdoável mesmo, não ter mar em Curitiba.

Espirro. Saúde-me! O ar de inverno me inspira. Tremo de saudades. Temo estar cheia de vazios. A ausência dele pesa feito uma tonelada de plumas. Se ao menos eu tivesse cometido todos aqueles crimes. Aceitaria melhor essas penas que me dão tanta tristeza e alergia. Atchim! Penas...

Mas o que é aquilo ali no parapeito da janela do sétimo andar? (parapeito  é aquele murinho que fica na altura da cintura ou do peito e impede que as pessoas normais saiam voando pela janela). Tá vendo, alí, ao lado da flor de maio? Parece um corvo. É um corvo? É um corvo. Já vi essa cena, já li essa história... Isso não vai se repetir... Não sou mais criança, não adoto mais animais esquisitos. Mas como é que um corvo se Põe na minha janela assim tão à vontade? Eu fedo? Estou morta? Alguém me responda!  Ninguém conhece esse poema aqui? Cazzilda! Prometi não dizer mais palavrões conhecidos, então me xingo de Cazzilda. Diminutivo carinhoso, feminino de cazzo.

Abro um chat e pergunto à um amigo que fica eternamente on-line. Mente que não lembra do poema, mas responde:

- Sim, você está morta.

- Filho da mãe! Se disser que eu fedo, te deleto.

E o corvo lá, paradão, me olhando. Ele livre e eu presa. Ele presa, eu predador. Bato na vidraça e faço movimentos com as mãos para espantá-lo. Nem me dá bola. Falo:

- Vai embora! Não gosto de você! Não gosto desse poema. Aqui não é seu lugar. Sai!

Abaixa e levanta a cabeça repetidamente como se não me entendesse e perguntasse: “O quê? O quê ?”

- Você está no centro de uma capital, animal! Curitiba, Paraná, Brasil. Já passamos do ano 2000. Só tem prédio, carro e gente. Não tem nada prá você aqui. Volte para seu lugar.

Acho que vi um sorriso irônico no bico dele. Juro que ouvi ele me dizer:

- E onde é que eu encontro podridão à vontade, lixo, gente que morreu e nem sabe, como você?

As pessoas normais dessa cidade ecológica vêem andorinhas, pardais, sabiás... Os poetas desta cidade são inspirados por borboletas, andorinhas, beija-flores, pombinhas e catorritas. Porque eu tenho que ser visitada por um corvo?

- Porque você não é poeta e nem gente, sua anta!

- Olha, vou esquecer que você existe. Esquecer o que você disse. Você é só um pássaro sem teto (como eu) que migrou para a cidade grande. Pior, nem pertence ao MST. Eu, pelo menos sou sindicalizada.  Você não existe. É só uma metáfora velha, que insiste em aparecer nos meus pesadelos.  Você nem corvo é, seu urubu de merda!

Voltei a falar com aquele artista que vive no computador fazendo capas de livros. Disse-me que estava procurando água na Internet. Navegar é impreciso, respondi e sugeri que procurasse água no mundo real, na terra, usando uma forquilha de roseira. Acho que não gostou da minha sabedoria empírica. Mudei de assunto.

Reclamei do frio. Sugeriu que bebêssemos uma garrafa de um bom Corvo. Tinha que voltar ao assunto, o engraçadinho. Tudo bem.... mas o que faço com esse corvo aqui, perguntei.

- Come ele. Você é muito mole, mulher. Tem que comer carne de corvo e farofa de caco de vidro pra ver se endurece. Ninguém lhe disse isso?
- É verdade. Tinha esquecido dessa receita de sobrevivência. Acho que estou lendo e escrevendo muita poesia... Ando uma manteiga derretida ultimamente.
- Ótimo! Excelente pedida: corvo na manteiga, um bom vinho, você e eu. Topas?
- Eca! Never, never more!
- Não quer sair comigo?
- Não é isso... Não quero comer carne de corvo.
- Tá me chamando de corvo?
- Pare! Você está me confundindo.
- Ainda não, mas pretendo.

Uma semana depois, o mesmo urubu que eu insisto em chamar de corvo, entrou no apartamento de uma amiga. Quem manda morar numa cobertura? Andou pelos quartos, cozinha, entrou na banheira, perfumou-se todo com os sais de banho e encarou o marido dela. Ele é espada: passou a mão no telefone e chamou os bombeiros. Não, os bombeiros não acudiram. Isso só acontece nos filmes americanos. Trancaram o pobre pássaro no quarto do filho que não dormiu em casa. No dia seguinte, a empregada abriu a janela e ele saiu voando solene.

Fez ninho no prédio em frente ao do meu trabalho, sob uma antena parabólica. Visita-me sempre. Agradeceu as flores de maio e as violetas que coloquei na janela em sua homenagem.

Conheci sua família. Tutti buona gente. Só não aceitei o convite para almoçar, por que virei vegetariana e trago minha marmita pro trabalho: arroz, feijão, ovo frito e salada de tomate. Mas se as coisas continuarem piorando desse jeito, não sei não... ele que não insista.

Por Marilda Confortin - in Pedradas Cronicas


vejam só, o mesmo conto traduzido para IDO

IDO - Idiomo Di Omni

Ido é uma língua artificial. Uma versão reformulada e simplificada do Esperanto criada no início do século XX por uma equipa de cientistas e linguistas. Se parece muito com francês, espanhol, italiano, além do próprio esperanto e do português.
Uma das minhas crônicas, publicada no livro Pedradas,  foi traduzida pelo Geraldo, um estudioso do IDO.
Posto aqui, em português e depois em IDO, para deixar registrado essa inesperada tradução.Vá que alguem tenha a curiosidade de ler...


Vulturo en la Butro

Originale en portugalalinguo, da Marilda Confortin
Idala versiono da Geraldo Boz Junior

La klimato di Curitiba konfundas mem la flori di mayo. Ni esas en oktobro e li esas plena de butomi. Semblas la vango di yunulo plena de explodanta pustuleti. Li ne savas se li apertas o se li klosas su. Me metos li an la fenestro por ke li videz pasar la kin stacioni di Leminski(1). Kande me arivis a ca urbo, me desembarkis en la unesma: la autobus-fervoyala staciono/sezono. En la sama dio me sentis per la pelo la altra quar. E kande me iris serchar la apartamento di mea fratino, an strado Mateus Leme, me esis certa ke se me durus iranta rekte, me atingus la maro. Ita strado havas odoro del maro, bruiso del maro e diversa restorerii di manjaji del maro. Nepardonebla ne existar maro hike.

Sternuto. Salude! L’aero di autuno inspiras me. Me fremisas pro nostalgio. Me timas esar plena de vakui. Ilua absenteso pezas quale tuno de plumi/punisuri(2). Se, adminime, me deliktabis omna ta krimini, me akcetus plubone ica punisuri qua donas a me tanta tristeso e tanta alergieso. Atchim! Plumi...

Ma quo esas ito sur la pektoro-mureto dil sepesma etajo? (pektoro-mureto esas ta mureto ke restas sub la pektoro e impedas normala personi ekirar flugante tra la fenestri) . Ka tu vidas, ibe, an la floro di mayo? Semblas vulturo. Kad esas vulturo? Ya esas vulturo. Me ja vidis ica ceno, me ja legis ca rakonto... Ico ne plus iteros. Me ne plus esas infanto, me ne plus adoptas stranja animali. Ma pro quo vulturo Poe/pozas  su an mea fenestro, tale volunte? Ka me malodoras? Ka me mortabas? Ulu respondez a me! Nulu hike konocas ica poemo?  Kacilda!  Me promisis ne plus dicar konocata parolachi, do me inventis Kacilda. Diminutajo karezala di kaco(3).

Me apertas babileyo e questionas amiko qua restas sempre en la interreto. Ilu mentias ke lu ne memoras la poemo, ma repondas:

- Yes, tu mortabas.
- Filiulo de putino. Se tu dicos anke ke me malodoras, me efacos tu.

E la vulturo ibe, stacanta, regardanta me. Lu libero, me arestito/raptato(4). Lu raptato/arestito, me raptisto. Me iras an la fenestro e movas la manui por pavorigar lu. Lu semblas nek vidar me. Me dicas:

- Irez for! Me ne prizas ica poemo. Me ne vokis tu. Hike ne esas tua plaso. Irez!

Lu levas e abasas la kapo, quale se lu ne komprenas e questionas: Quo? Quo?

- Tu esas meze di chefurbo, animalo! Ni esas en 2001. Brazilia. Esas nur konstruktaji, automobili e personi. 
Esas nulo por tu hike. Retroirez a tua plaso.

Me pensas ke me vidis ironia rideto en lua beko. Me juras ke me audis lu parolar:

- Ube me trovos tante multa putraji, kraso, personi ke mortabas ma ne savas lo, quale tu?

La normala personi de ica ekologiema urbo vidas hirundi, paseri e turdi... la poeti vizitesas da papilioni, hirundi, kolibrii, kolombeti e altra bela uceli. Pro quo me vizitesas da vulturo?

- Pro ke tu ne esas poeto, nek persono, besto!
- Bone, me oblivios ke tu existas, me oblivios quon tu dicabas. Tu esas nur senhema ucelo (quale me) ke migris aden ica urbo. Plu male ke tu ne mem apartenas a MST(5). Me, adminime, esas en la sindikato.

Me itere parolis kun ita artisto ke vivas em la komputoro facanta librokovrili. Lu dicis a me ke lu esis serchanta aquo en la interreto. Navigado esas nepreciza/nebezona (6) afero, me respondis e me sugestis ke il serchez aquo en la tero, per ipsilona brancho de roziero. Me pensas ke il ne multe prizis mea praktikala saveso. Me chanjis la temo. Me lamentis pri la vetero. Ilu sugestis ekirar e drinkar botelo di bona Vulturo(7) . Ilu retrovenis al temo, la drolo. Bone, ma quon ma facos pri ta vulturo?, me questionis.

- Manjez lu. Tu esas tro mola, muliero. Tu devas manjar karno de vulturo e vitropeci por hardeskar. Ka nulu parolis ico a tu?
- Esas vero. Me obliviabas. Me pensas ke me esas lektanta tro multa poezio... Lastatempe, me esas quale fuzata butro.
- Bonega! Ecelanta komendo: vulturo en la butro, bona vino, tu e me. Volas?
- Argh! Nultempe. Nultampe itere!
- Ka tu ne volas kunvenar kun me?
- No, ne esas ico... Me ne volas manjar karno de vulturo.
- Ka tu nomas me vulturo?
- Haltez! Tu konfuzas me!
- Ne ja, ma me intencas lo.

Un semano pose, la sama vulturo iris aden apartamento di amikino mea. La blamo es elua, nam elu lojas en kovro (la maxim alta e maxim chera apartamento di edifico). Ol iris en la chambri, kokeyo, aden la balnuyo, parfumizis su per la balnosali e regardis audace elua spozulo. Ilu esas maskula viro: quik prenis la telefono e vokis la fairisti. No, la faristi ne venis. Ico eventas nur en usana filmi. Ili klefagis la kompatind ucelo en la chambro di ilia filiulo, qua ne dormis heme. En la sequanta dio, la hememployatino apertis la fenestro ed ol ekflugis solene.

Ol facis nesto sur la konstrukturo avan la mea, sub parabola anteno. Ol vizitas me freque. Ol dankis pro la flori di mayo e la violi quin me pozis an la fenestro.

Me konocis olua familio. “Tutti buona gente”. Me apene ne akceptis olua invito por dejunar, nam me ja varmigabis mea portebla manjuyo: rizo, fazeolo, fritita ovo e salado de tomato. Se la situeso duras dakadanta, me ya ne savas... plu bone ke ol ne insistez.

____________________________________
(1) En la portugalalinguo la vorto ‘estação’ signifikas e sezono e staciono. Paulo Leminski esis Curitibana poeto, qua dicis ke se on arivas a Curitiba per treno o autobuso, on povas vidar kin sezoni/stacioni en un dio. La quar sezoni e la urbala staciono por autobusi e treni.

(2) Itere la autorino jokas per vorti. Em la portugalalinguo, “pena” signifikas e plumo e punisuro e kompato.

(3) La autorino, quale multa braziliani, descendas de italiani...

(4) La portugala ‘presa’ signifikas e arestito e raptato.

(5) MST esas “Movimento dos Sem Terra”, la Movado dil Sen Tero, qua propozas rurala reformo em Brazilia.

(6) La portugala vorto “preciso” signifikas e preciza e bezona. La frazo “navegar é impreciso” signifikas navigado esas neprecisa afero, ma aludas (e ludas) pri famoza poeziajo da Fernando Pessoa, en la portugala linguo, qua dicas “navegar é preciso, viver não é preciso”, navigado es bezona/preciza afero, vivar ne es bezona/preciza afero.

(7) Corvo esas brando, di vino. La portugala vorto “corvo” signifikas vulturo.

COMO UM DYLAN DEPOIS DO OUTRO...

– Isso não é coisa que se Dylan,
mas eu adylanmito: sou um dylantante
e curto Cobain ficar me fazendo de Bob...
Afinal, Dylan-me com quem Thomas
e Roberte-ei quem és...

– Argh, Ivan! Não faça aZimmerman...

– Tá bom, então, já que like a rolling estou,
juro que este é o último dos trocadylans...

Ivan Justen


 o