Entrevista Marilda Confortin, concedida para revista Poetrix 8


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Como você conheceu o poetrix?

Fui apresentada ao Poetrix por Hércio Afonso de Almeida, numa sala virtual, por volta de 2001. Hércio me disse que participava de um grupo que escrevia uns tercetos “diferentes”, e me enviou algumas amostras de sua autoria e de outros autores. Fiquei extasiada! Reli inúmeras vezes degustando cada palavra daquelas “iscas”. Fiz algumas tentativas, até que em meados de 2002, ele me apresentou ao Goulart Gomes e ao grupo dos primeiros poetrixtas. Estavam organizando a primeira Antologia. Meu baú de Poetrix ainda estava meio vazio, por isso participei da primeira Antologia como convidada. E depois, de todas as outras. Permaneci no “yahoo grupo” e no MIP, aprendendo. Sou aprendiz eterna.

Como presidente da Academia Internacional Poetrix, quais as propostas atuais e futuras da Academia?

Essa é a primeira diretoria completa e eleita da AIP. Nosso objetivo nesse primeiro ano é promover atividades que nos ensinem a convivência harmônica e responsável entre acadêmicos. Exercitar a crítica e autocrítica, elevar a qualidade de nossa escrita e nos conhecer além de poetrixtas, mesmo que virtualmente. Para atingir esse objetivo, estamos promovendo Saraus, Berlindas e Concursos mensais de Poetrix entre os acadêmicos.

Criamos um site para dar acesso público à pesquisas das biografias, discursos, produção dos acadêmicos e não acadêmicos que nos enviam seus Poetrix para para publicação. O endereço do site é  https://www.academiapoetrix.org/. O e-mail para envio de Poetrix é academiapoetrix@gmail.com. Mandem seus melhores poetrix para publicarmos na página oficial da Academia.

Em maio de 2021, abrimos a possibilidade dos acadêmicos enviarem suas dúvidas e sugestões sobre a redação da Bula Poetrix, que foi escrita antes da criação da Academia. Estamos “bulindo” os textos que nos enviam e posteriormente faremos uma Assembleia Geral para “batermos o martelo”.

Em agosto de 2021, iniciamos os procedimentos de inscrição para a seleção de cinco novos membros da AIP. Acompanhem pelo site da academia.

No segundo semestre de 2021, retomaremos a criação do canal no Youtube da AIP, para realização de entrevistas, conversas, oficinas, saraus online, exposições de poetrix, grafitrix, videotrix entre outras coisas.

Já para meados de 2022, além da continuidade de todas as atividades citadas acima, vamos iniciar um ciclo de debates entre os acadêmicos, visando atualizar alguns itens do Estatuto e Regimento.

Temos outras propostas que dependem da finalização das etapas acima. Vamos deixar para conversar sobre elas mais tarde.

O que é o poetrix para você? O que nele te encanta?

Poetrix para mim é como um raio à noite. É isso que me encanta: O rápido clarão iluminando coisas que sempre estiveram aí e a claridade poluída de informações do dia-a-dia me impedia de ver.

O que precisa ter um bom poetrix?

Precisa ter as características que o definem como Poetrix, sem perder a poeticidade. Precisa sair do óbvio e surpreender o leitor. Poetrix é minimalista, não pobre de poesia.

Como usar o poetrix no trabalho pedagógico?

Não sou pedagoga, mas convivi com esses profissionais e estudantes no período de 2000 a 2015 quando trabalhei na Secretaria de Educação de Curitiba e ministrei várias oficinas de poesia minimalista. Aprendi muito sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças, conteúdo curricular e em que fase determinado tipo de literatura pode ser ofertada aos estudantes para que compreendam, se encantem e queiram escrever. O Poetrix não é uma poesia infantil. É complexo demais e exige uma bagagem de conhecimentos que as crianças ainda não possuem. Pos isso, não recomendo o Poetrix para crianças.

Como ferramenta pedagógica, o Poetrix pode ser utilizado sem restrições no Ensino Médio e Superior. Já no Fundamental, é recomendado a partir do ano/série em que as Figuras de Linguagem entram no Currículo Escolar. Normalmente, é lá pelo 7º ano, quando já não são crianças e sim pré-adolescentes com seus 12 ou 13 anos de idade e conseguem transportar algumas Figuras de Linguagens e outros recursos de linguagens às suas realidades, associando-as com suas próprias falas, músicas que ouvem, gírias e expressões que circulam nos seus grupos de amigos. É um processo gradativo. Os adolescentes gostam do Poetrix, mas Bula completa é um bicho de sete cabeças para essa faixa etária. Normalmente eu uso um resumo nas minhas oficinas.

Poetrix é um gênero novo. Os professores não têm contato com o Poetrix nos cursos de Licenciatura. Não é uma poesia obrigatória. Por ser um poema “curtinho”, alguns acham que é igual a haicai, trova ou poesia infantil. Portanto, se você for convidado a dar uma oficina de Poetrix em escolas, pergunte primeiro qual é a faixa etária do público alvo. Imagine-se falando sobre Figuras de Linguagem e as Seis Propostas, do Calvino, para trinta crianças que ainda estão aprendendo a ler/escrever. Já aconteceu comigo e foi um desastre. Acabei brincando de ciranda cirandinha e deixando as crianças se divertirem. É recomendável aplicá-la antes aos professores para que saibam das características do Poetrix e possam dar conta do recado depois que você sair da sala de aula.

Que dicas você daria para os novatos e para quem já faz poetrix, mas sem conseguir excelência?

Leia e escreva muito. Não só Poetrix. Escreva sem se preocupar se será uma poesia quilométrica ou um dístico. Deixe o texto repousar alguns dias e depois comece a “bulir” nele com a Bula na mão. Por mais que doa, corte palavras repetidas, frases com o mesmo sentido, rimas pobres ou em excesso. Tente "enquadrar" o que restou do texto nas regras do Poetrix. Bula mais um pouco eliminando a obviedade; pesquise palavras novas e outras perspectivas para o tema. Valorize a poética. Metáfora é apenas uma das várias Figuras de Linguagem. Conheça-as. Use outros recursos da escrita. Provoque uma surpresa no leitor. Busque o famoso “susto” do Poetrix descrito por Lílian na coluna desta edição da Revista. Tenha paciência e contenha o impulso de publicar imediatemente. O importante não é a quantidade de Poetrix que você escreve, mas sim a qualidade. Crie um acervo/arquivo de ideias e revisite-o periodicamente.

O que você acha que precisa ser feito para o poetrix ficar mais conhecido?

Apesar de ter inúmeros praticantes, o Poetrix ainda é muito jovem comparado aos seus parentes famosos mais próximos, como o haicai e a trova. A Academia Poetrix recém foi criada. Estamos engatinhando ainda.

Ajudaria muito se a ABL reconhecesse o Poetrix e o incluísse no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Goulart Gomes enviou pela segunda vez esse pedido à ABL. Quando a AIP estiver registrada oficialmente e com seu quadro de membros completo, poderemos endossar e embasar essa solicitação.

Outra coisa que ajudaria é ter um texto oficial da AIP, orientativo, enxuto e com exemplos. Como uma “Bula para Iniciantes”, contendo os elementos obrigatórios do Poetrix, numa linguagem coloquial, fácill, para que os professores possam utilizá-lo como apoio pedagógico em suas aulas e para que os poetrixtas iniciantes sejam instigados a ler e interpretar outros textos mais longos e/ou mais complexos.

Gostaria de acrescentar algo importante?

Sim. Temos que perder o medo de submeter nossos Poetrix à análise de outros. Aprender a fazer e ouvir críticas, sugestões e argumentar sem ofender os colegas. Os grupos de Poetrix servem para isso, não só para massagear o ego um do outro. É agradável só elogiar ou receber palminhas, mas, não ajuda o poetrixta a melhorar sua escrita.

Deixe um poetrix de sua autoria em homenagem à confraria, nosso tema do trimestre.



Confraria

Comunhão de Pessoas
Alimento: Poesia
Ca(u)sa nobre!


Marilda Confortin, analista de sistemas aposentada, mãe de dois filhos, catarinense com 65 anos, desses,  quarenta vividos em Curitiba; Publicou meia dúzia de livros, sendo um de Poetrix; Integrou várias coletâneas brasileiras e estrangeiras; Letrista com duas músicas premiadas em festivais. Recitou poesias em botecos e igrejas; ministrou oficinas do Poetrix em escolas e universidades. Como representante do Brasil, participou de três festivais internacionais de poesia. É presidente da Academia Internacional Poetrix, gestão 2021 a meados de 2022. https://www.academiapoetrix.org/ https://iscapoetica.blogspot.com/ 

 Umbilical



Tatára e Francine

 ... é que ainda me bate saudades, Tatára e galera. Das noites de música e poesia. Das segundas autorais. Das parcerias incríveis que fizemos aí... daí encontrei esse vídeo, gravado ao vivo no Bar do Tatára, numa noite daquelas. Daí ele também não está mais aqui. 



a gente era assim



Gerson Bientinez

Você sempre será SENSACIONAL, Gersinho!

Meses depois de sua partida, recebi o vídeo da última composição desse grande e amado músico Curitibano, Gerson Bientinez. Parceiro de várias música e amigo de tantas horas. Ainda estou triste, mas, honrada com a citação nessa bela viagem pela cultura curitibana. Saudades eternas, amigo. 



Gerson sempre me "encomendava" parcerias. Me dava um tema e eu que me virasse para escrever. Um dia ele pediu que eu escrevesse algo para ele homenagear uma grande amiga dele. Pediu que fosse um poema engraçado, meio sacana. Me deu o tema: "Sorriso Monalisa". Fiz, né. Ele nem editou o meu "PS de mim pra você". Virou tudo música. Gravou num CD que tem 3 parceiras comigo. Nem tenho esse CD. Coisas do Gersinho. Quem interpreta o "Sorriso Monalisa" é Léo Fressato
Ouçam. Com saudades desse queridão que deve estar aprontando e bebendo todas lá no céu.
 

Las mujeres de la casa de la torre

 Projeto da uruguaia Graciela Leguizamón, cujo objetivo era responder o poema Tlaloc, do poeta mexicano Arturo Jiménez. 

Foram selecionadas 12 poetas de diversos países para participar do projeto. Eu fui uma delas. 

Os poemas, acompanhados de uma obra de arte que ilustrava o texto, participaram da exposição "las mujeres de la casa de ala torre", também chamada de "las nuevas Dullcinéia", no Uruguai e na Argentina. 

 


O trecho do poema de Arturo que me coube responder foi esse: 


... Mujer de barro húmedo y rojo,
¿no eres el polvo que giraba sobre las nubes lejanas?
¿el agua transparente detrás del relámpago?
antes que tú vinieras
el aire estaba hueco como un cántaro de espumas y espejismos
y entre la niebla sin forma
como un pez ciego, obscuro, te esperaba,
¿quién era, quién soy? Arturo Jiménez


E minha resposta poética foi essa:

¡Cállate, mortal!
¡No despiertes los dioses con tus preguntas!
Ellos son etéreos.
Nada saben sobre los seres de barro
Moldeados por las manos de los hombres.
Tú me imaginaste y me esculpiste.
Tu sabes quien eres, quien soy yo y donde estoy, hombre.
Tan sólo necesitas acordarte.
Olvida todo lo que aprendiste
y tócame, ciego, en braille.
Aguza el tacto y trilla el camino húmedo
que te conduces a mi útero.
Ya lo recorriste una vez,
cuando aún no tenías esta forma.

¡Adéntrame!
Durante un espacio de tiempo
que ningún sistema métrico define
no serás hombre, ni mujer, tampoco Dios.
No necesitarás de palabras
para traducir el silencio del universo,
ni del arco iris para que te acordes de los colores,
ni de las nubes para que percibas la dimensión del cielo.

Cuando te licuares en mi,
te sentirás como el agua cristalina que brota de la noche,
iluminada por los relámpagos.
Y callarán todas tus preguntas,
cesarán tus angustias.
Te faltarán el suelo y el aire
y te sentirás más seguro que nunca.

Y no importará saber
quien soy yo o quien eres tú.
Porque te recordarás que es aquí,
dentro de mi,
que todo empieza y termina.
(marilda confortin - novembro de 2002)


Poema baseado na obra TLALOC de Arturo Jimenez